O
Brasil é uma nação sem consciência da sua própria grandeza e das riquezas
presentes em seu território. A afirmação foi feita pelo comandante do Exército,
general Eduardo Villas Bôas, em audiência pública nesta quinta-feira (22) na Comissão
de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
O
general revelou que projeções trabalhadas pelo Exército calculam em cerca de U$
23 trilhões o potencial em recursos naturais existente apenas na região
amazônica. Apesar disso, não existiria nenhum projeto específico de
aproveitamento destas gigantescas riquezas, refletido ainda no entender de
Villas Bôas na ausência de um projeto nacional como um todo. Ele concordou com
a afirmação de Roberto Requião (PMDB-PR) para quem "o Brasil é grande demais
pra abrir mão de um projeto nacional".
-
É exatamente isso, o Brasil é um superdotado num corpo de adolescente. A
Amazônia continua praticamente abandonada, falta um projeto e densidade de
pensamento - afirmou o comandante do Exército.
Villas
Bôas voltou a reiterar declarações recentes dadas à imprensa para quem "o
Brasil está à deriva, sem rumo", como consequência de um acúmulo de crises
que iria além de seus aspectos econômicos. Fez questão de reiterar que este
diagnóstico não se aplicaria à atual gestão federal, pois este processo
"já vem há muito tempo".
Villas
Bôas entende que um dos equívocos cometidos pela sociedade brasileira foi
deixar-se levar pelas linhas de confrontação ideológica existentes na Guerra
Fria, o que dividiu setores, levou ao abandono de um projeto nacional e evolui
hoje para a "perda da identidade e o estiolamento da auto-estima".
-
Se fôssemos um país pequeno, poderíamos nos agregar a um projeto de
desenvolvimento de um outro país. Como ocorre com muitos. Mas o Brasil não pode
fazer isso, não temos outra alternativa a não ser sermos uma potência. Não uso
esse termo na conotação negativa, relacionada a imperialismo, mas no sentido de
que necessitamos de uma densidade muito grande - explicou.
"Desenvolvimento
salva a Amazônia"
As
afirmações de Villas Bôas em relação à região amazônica e à crise de projetos
foram apoiadas por senadores como Cristovam Buarque (PPS-DF), Vanessa
Graziottin (PCdoB-AM) e Lindbergh Farias (PT-RJ). Para Cristovam, até hoje
amplos setores da sociedade brasileira continuam presos a mecanismos
ideológicos herdados da Guerra Fria, o que ele percebe como "um
anacronismo".
Lindbergh
questionou o general sobre projetos anunciados pelo governo federal, como uma
ampla liberação para a exploração estrangeira em relação a minérios, assim como
também a venda de terras para estrangeiros. Villas Bôas disse ser contrário à
venda de terras nas regiões fronteiriças, reiterando que se absteria de
comentar a questão em relação a outras partes do território.
O
comandante do Exército também fez questão de reiterar que vê com
"preocupação" uma maior abertura para a exploração das riquezas
minerais por empresas de fora. Mencionou que o Exército tem levantamentos sobre
a "estranha coincidência" entre a demarcação de terras indígenas com
a presença das riquezas minerais.
Villas
Bôas ressaltou que a Bolsa de Futuros relacionada à exploração mineral sedia-se
no Canadá, de onde advém grande parte da pressão internacional pela instalação
de unidades de conservação.
-
Eles trabalham no sentido de neutralizar áreas, amortecer, já que não tem a
capacidade de explorar imediatamente. E ficam esperando certamente momentos
oportunos pra buscar estas oportunidades, então acho que isso tem que ser muito
considerado - alertou.
Ainda
no que tange à Amazônia, para o general o país continua vítima de uma visão que
contrapõe o desenvolvimento à preservação ambiental.
-
Morei lá por oito anos e penso justamente o oposto. O que vai salvar a região
amazônica, inclusive a natureza, é o desenvolvimento. É a implantação de polos
intensivos para empregar aquela grande mão de obra, impedindo que ela vá viver
do desmatamento extensivo - defendeu.
Villas
Bôas acrescentou que percebe as populações indígenas hoje como as principais
vítimas do atual modelo aplicado à região, pois seriam utilizados por
interesses ligados ao ambientalismo na definição de unidades de conservação e
depois "abandonados à própria sorte". Concluiu afirmando que a crise
na Amazônia é um reflexo da ausência de um projeto como um todo para o país e
sua "vulnerabilidade" à ações externas.
https://www.brasil247.com/pt/247/poder/302651/Chefe-das-For%C3%A7as-Armadas-condena-entreguismo-de-Temer.htm
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