Não
é exagero afirmar que o tesão que a pintora mexicana Frida Kahlo, aos 29 anos,
sentiu pelo comandante do Exército Vermelho Leon Trotsky, aos 58, tivesse menos
a ver com sexo do que com comunismo. Frida sempre sonhou em ser uma
revolucionária, e dar uns amassos no piochitas (cavanhaquezinho), como ela
chamava Trotsky, deve ter sido uma deliciosa travessura.
Frida
era absolutamente livre sexualmente, e se relacionou com homens e mulheres,
mesmo estando casada a maior parte da vida com o também pintor Diego Rivera. A
jovem nascida em Coyoacan se unira às Juventudes Comunistas aos 17 anos e
se filiara ao PC mexicano aos 20, pouco
após sofrer o grave acidente que marcaria sua vida: o bonde onde ela estava se
chocou com um trem e as ferragens perfuraram-lhe o corpo, causando danos à
coluna. Obrigada a ficar na cama, Frida começou a pintar. Mais tarde, sobre o
colete ortopédico de gesso que a acompanhou até o fim, gravaria o símbolo da
foice e martelo.
Paralelamente
à pintura, a atividade política seria constante na vida de Frida Kahlo,
sobretudo após conhecer Rivera. Não houve greve, protesto ou manifestação nos
anos 1930 no México em que o casal não estivesse presente. Mas, ao contrário do
marido, sua obra nunca foi panfletária. Enquanto Diego pintava enormes murais
em que apareciam trabalhadores, operários e líderes comunistas, Frida olhava
mais para dentro de si, em quadros que retratam as dores e os amores humanos.
Não
que ela não tivesse também retratado comunistas, como no Auto-Retrato com Stalin,
de 1954. O casal Rivera flertara com o trotskismo, mas voltara a admirar o
líder soviético e se aproximar do Partido Comunista nos anos que se antecederam
à morte de Frida. Na cabeceira de sua cama, na Casa Azul, em Coyoacan, onde
pintava deitada nos períodos em que a saúde frágil se agravava, há um painel
com fotos dos ídolos que a inspiravam: Karl Marx, Friedrich Engels, Lenin, Mao
Tsé-Tung e o próprio Stalin. “Eu os amo por serem os pilares do novo mundo
comunista”, escreveu em seu diário.
Nas
anotações, a pintora mostra que a relação com Trotsky não a tornou uma
“contra-revolucionária”, como se dizia na época. “Não estou de acordo com a
contra-revolução. Nunca fui uma trotskista”, escreveu Frida, para quem a
revolução era “a única razão real para viver”. Quando Stalin morreu, a pintora
confessou que sempre quis conhecê-lo. É preciso lembrar que os horrores do
stalinismo só foram inteiramente revelados ao mundo após a morte de Frida, em
1956, com Nikita Kruschev.
A
frustração de Frida em não ser uma pintora “útil ao movimento comunista” e cujo
trabalho “servisse ao partido” soa absurda hoje, diante da grandeza de sua obra
–certamente não seria assim se tivesse se dedicado à arte “engajada”. Mas a
exploração capitalista de seu trabalho com certeza a deixaria furiosa. “Só
pintei a honrada expressão de mim mesma”, escreveu. “Sou um ser comunista. Li a
história do México e de outros países, conheço seus conflitos de classe. Sou
apenas uma célula do complexo mecanismo revolucionário dos povos pela paz das novas
nações soviéticas – tchecas – polonesas – ligadas a mim pelo próprio sangue.”
Sobre
o caixão de Frida Kahlo, em julho de 1954, repousava a bandeira vermelha, com a
estrela amarela e a foice e o martelo, do Partido Comunista Mexicano.
http://www.socialistamorena.com.br/rouge-mulheres-socialistas-serie-frida-kahlo/
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