A
vice-presidente da Ajuris, Vera Lúcia Deboni, publicou carta aberta a Michel
Temer sobre a interpretação dele, no Dia Internacional da Mulher, “desconectada
com o tempo em que vivemos”.
No
texto, a magistrada considera as declarações do presidente da República sobre o
papel da mulher “uma interpretação desconectada com o tempo em que vivemos”. O
texto a seguir foi, inicialmente, publicado no jornal Zero Hora; e está tendo
repercussão nacional.
CARTA AO
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Senhor
Presidente. No dia 8 de março, como fazem há muito tempo, as mulheres saíram de
casa e foram às ruas. O senhor precisa saber que, em pleno século XXI, nossa
força de trabalho representa 43,8% do total no país. Como era Dia Internacional
da Mulher, o trânsito em Porto Alegre estava difícil. Muitas mulheres do
interior do Estado, entre trabalhadoras, jovens e agricultoras de mãos calejadas
faziam manifestações em prol da equidade de gênero.
Representando
minha associação de classe, fui ao primeiro compromisso do dia: encontro com
mulheres líderes em instituições, a convite da desembargadora corregedora-geral
da Justiça do TJRS. Lá estavam a presidente do TER-RS, a 2ª vice-presidente do
TJRS, deputadas estaduais, promotoras de justiça, advogadas, defensoras
públicas, delegadas de polícia, policiais militares. Tratamos da defesa dos
direitos das mulheres.
Depois,
pelo mesmo motivo, participei de programa de rádio com três jornalistas
mulheres. E no final da tarde, de evento cultural com várias mulheres artistas.
Nada surpreendente, já que, em pleno século XXI, somos quase maioria no
planeta, e na magistratura do RS passamos de 50%, na qual, assim como em outras
carreiras, a presença feminina é crescente.
A
surpresa do dia ficou por sua conta. Em uma interpretação desconectada com o
tempo em que vivemos, em rede nacional, alardeou uma avaliação de que a nossa
contribuição para a economia do país se resume a verificação de preços no
supermercado.
Diante
disso, peço que oriente a Receita Federal e os demais órgãos de arrecadação de
impostos que isente todas as mulheres de qualquer contribuição. E, para não
deixar de atender sua expectativa, depois de atendido meu pedido, assumo
compromisso de ir ao supermercado todos os dias úteis da semana e olhar os
preços.
Só
peço que informe a quem devo comunicar quando subirem.
Senhor
Presidente, a mulher pode ser dona de casa, desde que isso não seja uma
imposição. Pode, se quiser, controlar os preços no supermercado, desde que isso
não seja uma política pública. Mas o senhor precisa saber: lugar de mulher é
onde ela quiser!
Vera Lúcia
Deboni, vice-presidente administrativa da Ajuris – Associação dos Juízes do RS.
veradeboni@ajuris.org.br
Fonte:
www.espacovital.com.br
http://www.espacovital.com.br/noticia-34772-juiza-gaucha-diz-temer-que-ldquoltigtlugar-mulher-e-onde-ela-quiserltigtrdquo
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