A
partir de agora, o Brasil não tem mais trabalhadores, nem operários. Todos
serão "empreendedores individuais", patrões de si mesmos. Eu,
sociedade anônima.
Essa
é a nova realidade do Brasil pós-terceirização, onde já se estima que 75% dos
postos de trabalho não terão mais os vínculos empregatícios do passado, regidos
pela CLT – um "entulho da era Vargas", como dizem os liberais.
Como
os verdadeiros patrões, que controlam o capital e os meios de produção, e os
"neopatrões de si mesmos" – aqueles que antes eram chamados de
trabalhadores – serão livres para negociar seus contratos, não há mais motivo
para se pensar em férias, décimo-terceiro, fundo de garantia ou coisas do
gênero. O que importa é a liberdade individual. Sindicatos que representem
interesses coletivos? Nem pensar. Justiça do Trabalho? Melhor fechar, como
disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Nessa
nova "sociedade", entre aspas porque sem contrato social, a primeira
vítima será o setor público, que imagina estar modernizando o País, mas está
cavando sua própria sepultura. Os novos "empreendedores individuais"
já não têm mais nenhum motivo para contribuir para o INSS, especialmente num
país que não honra contratos e pretende impor 49 anos de contribuição, além da
idade mínima de 65 anos, para uma aposentadoria integral. Os velhos patrões,
estes serão dispensados das contribuições previdenciárias, pois seus novos
colaboradores já não serão mais empregados. Viraram "patrões".
Mas
como não existe almoço grátis, já dizia Milton Friedman, o guru dos liberais,
essa conta terá que ser paga por alguém. E um estado quebrado repassará a conta
para a sociedade na forma de impostos. Coincidência ou não, nesta semana, o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciará o aumento de diversas
alíquotas de contribuições, para fazer frente a um rombo fiscal estimado em R$
200 bilhões.
A
segunda consequência dessa nova era em que só existirão "sociedades
anônimas" é o fim de qualquer esperança de coesão social e de
solidariedade. Quem conseguir se virar, ótimo. Quem ficar pelo caminho, terá
sido um empreendedor fracassado. A partir de agora, é cada um por si. Assim,
aos poucos, o Brasil vai deixando de ser uma nação para se converter apenas num
território – que também poderá ser comprado por estrangeiros – habitado por
pessoas.
Vai
dar certo? A História ensina que onde não há um mínimo de paz social, só
existem duas saídas: revoluções ou explosões de violência. Coincidência ou não,
o Brasil, que já é um dos países mais violentos do mundo, decidiu plantar mais
instabilidade.
http://www.brasil247.com/pt/blog/leonardoattuch/286822/Brasil-da-terceiriza%C3%A7%C3%A3o-agora-%C3%A9-cada-um-por-si.htm
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