Jornal
GGN - "Está em curso um desmonte da nação. Isto significa a implantação de
um neoliberalismo ultraconservador e predatório que praticamente anula as
conquistas sociais em favor de milhões de pobres e miseráveis", afirmou o
teólogo e pesquisador Leonardo Boff.
Para
ele, quanto mais se privatiza, mais se legitima o interesse particular em
detrimento do interesse geral. Nessa lógica, além de se enfraquecer o Estado, o
atual governo do Brasl está nos impondo "um killer capitalismo".
Leia a coluna completa:
Por Leonardo Boff
O golpe
parlamentar como assalto ao bem comum
No Brasil247
Um
dos efeitos mais perversos do golpe parlamentar, destituindo com razões
juridicamente questionáveis pelos juristas mais conceituados de nosso país e também
do exterior, foi impor um projeto econômico-social de ajustes e de modificações
legais que significam um assalto ao já combalido bem comum. O golpe foi promovido pelas oligarquias
endinheiradas e anti-nacionais que usaram um parlamento de fazer vergonha por
sua ausência de ética e de sentido nacional, que por ele pretendem drenar para
seu proveito a maior fatia da riqueza nacional. Isso foi denunciado por nomes
notáveis como Luiz Alberto Moniz Bandeira, Jessé Souza, Bresser Pereira, entre
outros.
Está
em curso um desmonte da nação. Isto significa a implantação de um
neoliberalismo ultraconservador e predatório que praticamente anula as
conquistas sociais em favor de milhões de pobres e miseráveis, tirando-lhes
direitos com referencia ao salário, ao regime de trabalho e das aposentadorias
além de reduzir e até liquidar com projetos fundamentais como a Bolsa Família,
Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos, o FIES e outros institutos que permitiam
o acesso aos filhos e filhas da pobreza ao estudo técnico ou superior.
Mais
que tudo, começou-se a leiloar bens coletivos como partes da Petrobras e a colocação à venda de terras nacionais. A
privatização significa sempre uma diminuição do bem de interesse geral que
passa às mãos do interesse particular. Atacam-se ao que se chama hoje de
“direitos de solidariedade” que submete os interesses particulares aos
interesses coletivos e comuns.
Estão
sendo erodidas as duas pilastras fundamentais que historicamente construíram o
bem comum: a participação dos cidadãos (cidadania ativa) e a cooperação de
todos. Em seu lugar, a atual ordem imposta pelos que perpetraram o golpe, enfatiza as noções de rentabilidade, de
flexibilização, de adaptação e de competitividade. A liberdade do cidadão é
substituída pela liberdade das forças do mercado, o bem comum, pelo bem
particular e a cooperação, pela competitividade.
A
participação e a cooperação asseguravam a base do interesse e do comum. Negados
esses valores, a existência de cada um não está mais socialmente garantida nem seus
direitos afiançados. Logo, cada um se
sente constrangido o garantir o seu. Assim surge um individualismo avassalador,
acolitado por ondas de ódio, de homofobia, de machismo e de todo tipo de
discriminações.
O
propósito dos atuais gestores, já reconhecidos como incompetentes, alguns até
imbecilizados é: o mercado tem que ganhar e a sociedade deve perder.
Ingenuamente creem ainda que é o mercado que vai regular e resolver tudo. Se
assim é por que vamos construir o bem comum? Deslegitimou-se o bem-estar social
e o bem comum foi enviado ao limbo.
Mas
cabe denunciar: quanto mais se privatiza mais se legitima o interesse
particular em detrimento do interesse geral além de enfraquecer o Estado, o
gerenciador do interesse geral. Estão
nos impondo um killer capitalismo.
Quanto de perversidade social e de barbárie vão aguentar os movimentos
sociais, aqueles que da pobreza estão sendo jogados para a miséria, os partidos
de raiz popular e a inteligentzia brasileira com sentido de nação e de
soberania de nosso pais?
Mas
esclareçamos o conceito de bem comum. No plano infra-estrutural o bem comum é o
acesso justo de todos aos bens comuns básicos como à alimentação, à saúde, à moradia, à energia, à segurança e à
comunicação. No plano social é a possibilidade de levar uma vida material e
humana satisfatória na dignidade e na liberdade num ambiente de convivência
pacífica.
Pelo
fato de estar sendo desmantelado pela
atual ordem injusta, o bem comum deve agora ser reconstruído. Para isso,
importa dar hegemonia à cooperação e não à competição e articular todas as
forças comprometidas com o interesse geral a
resistir, a pressionar e a ganhar as ruas.
Por
outro lado, o bem comum não pode ser concebido antropocentricamente. Hoje
desenvolveu-se a consciência da interdependência de todos os seres com todos e
com o meio no qual vivemos. Nós enquanto humanos, somos um elo, embora singular,
da comunidade de vida e responsáveis pelo bem comum também desta comunidade de
vida. Não podemos vender nossas terras nem deixar de delimitar os territórios
indígenas, os donos originários de nosso país nem descuidar do desmatamento
desenfreado da Amazônia como está ocorrendo agora.
Nós
humanos, possuímos os mesmos constituintes físico-químicos com os quais se
constrói o código genético de todo o vivente. Dai se deriva um parentesco
objetivo entre todos os seres vivos como o tem enfatizado o Papa Francisco em
sua encíclica sobre a ecologia integral. Por isso cuidar e defender a natureza
é cuidar e defender a nós mesmos, pois somos parte dela. Em razão desta
compreensão o bem comum não pode ser apenas humano, mas de toda a comunidade
terrenal e biótica com quem compartimos a vida e o destino.
Cooperação
se reforça com mais cooperação, pois aqui reside a seiva secreta que alimenta e
revigora permanentemente o bem-comum, atacado pelas forças que ocuparam o
Estado e seus aparelhos no interesse de poucos contra o bem comum de todos os
demais.
Leonardo
Boff é articulista do JB on line e escreveu: De onde vem? o Universo, a Terra,
a vida, o espírito, Mar de Ideias, Rio.
http://jornalggn.com.br/noticia/o-desmonte-da-nacao-pelo-golpe-parlamentar-por-leonardo-boff
Nenhum comentário:
Postar um comentário