O
crescimento de uma onda neo-nazista no Brasil confronta não apenas as origens
da história nacional, como também está chamando a atenção da imprensa
internacional.
Reportagem
publicada nesta terça-feira (11) pelo Financial Times mostra como grupos de extrema
direita não são mais casos tão isolados, citando inclusive o deputado Jair
Bolsonaro (PP-RJ) no Congresso, representando milhares de brasileiros nas
urnas, como exemplo.
O
repórter da publicação norte-americana, Joe Leahy, conversou com o delegado Paulo
César Jardim, responsável por uma investigação que aponta para neonazistas, no
Rio Grande do Sul, candidatos ao recrutamento de extremistas de direita na
Ucrânia para lutar contra os pró-rebeldes russos na guerra civil do país
europeu.
“Tínhamos
consciência de que alguém tinha vindo da Europa.. Um italiano… Tinha vindo ao
Brasil para recrutar pessoas para a Ucrânia”, havia relatado o delegado ao
Financial Times.
“A
revelação, se comprovada, de que os movimentos ultranacionalistas subterrâneos
do Brasil buscam experiência de combate no exterior é uma preocupante
constatação de um fenômeno que chocou o país que se considera um caldeirão
racial”, publicou o jornal.
Nessa
linha, o diário afirma que, com mais de metade da população reivindicando pelo
menos alguma herança africana, os brasileiros se orgulham das relações
tranquilas entre os diferentes grupos raciais do país. Mas, por outro lado, “o
aumento de neonazistas no Brasil tem desafiado um mito popular de que o
racismo, pelo menos a variedade dele como é mostrada nos EUA e em outros países
ocidentais, não existe lá”.
Os
dados são do aumento no fluxo de ataques neonazistas e de grupos de extrema
direita no país, citando o caso de ataques a uma banda de punk que defendia
direitos iguais e homossexuais com facas e machado.
E
é nessa onda ultraconservadora que surgem os políticos para representar estes
grupos. “Enquanto a extrema-direita ainda é vista como à margem da política em
um país que se libertou de duas décadas de ditadura militar apenas em meados
dos anos 80, os políticos ultraconservadores e seus partidários estão dispostos
a preencher um vácuo político que se desenvolveu depois do julgamento do
impeachment de agosto da ex-presidente Dilma Rousseff”, diz o jornal.
Apesar
de citar o deputado do PP Jair Bolsonaro como fora de exemplos do neonazismo, a
reportagem do Financial Times relaciona posturas do parlamentar com os grupos
extremistas. “Congressista e ex-capitão do Exército Brasileiro de
extrema-direita, ganhou as manchetes no ano passado por louvar um torturador
conhecido desde a época da ditadura. Também no ano passado, um grupo de
ultraconservadores invadiu o Congresso e revelou bandeiras pedindo o retorno do
governo militar”, cita.
Os
pontos de convergências entre Bolsonaro e o neonazismo estão, entre outros, a
intolerância e o racismo, continua o diário, que também mapeia onde estão
localizados os maiores grupos neonazistas no país: no sul e sudeste, “regiões
que receberam a maior parte dos imigrantes alemães, italianos e poloneses do Brasil”.
Também
relaciona o surgimento da onda de movimentos deste tipo na América do Sul com sites de ódio na Internet. De acordo com
um artigo da antropóloga Andriana Dias, da Unicamp, o Brasil de 200 milhões de
habitantes tem 150 mil “simpatizantes” de movimentos neonazistas.
Para
além do neonazismo em si, o jornal norte-americano exemplifica a extensão
desses grupos: “nos casos mais recentes, os skinheads têm como alvo os gays na
Avenida Paulista, a principal via pública em São Paulo. Em 2011, três skinheads
foram condenados por tentar matar quatro pessoas, incluindo uma pessoa negra
com uma prótese, com bastões e facas.”
“Estes
não são criminosos comuns ou ladrões, eles têm uma ideologia. São pessoas que
acreditam na limpeza étnica, na pureza racial”, contou o delegado Paulo César
Jardim a Joe Leahy.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/neonazismo-brasileiro-desafia-o-mito-da-nossa-harmonia-racial-diz-o-financial-times/
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