São
Paulo – Apesar da chuva incessante, famílias de trabalhadores sem teto deixaram
a casa de parentes nos extremos da capital paulista e cruzaram a cidade para
lotar, na noite de ontem (19), o auditório do sindicato dos professores da rede
estadual, a Apeoesp, na Praça da República, no centro. “Estou decepcionado com
nossos governantes. Com outras 700 famílias, perdi meu barraco na ocupação
Colonial, em São Mateus. Havia idosos, crianças, pessoas deficientes,
gestantes. Fomos despejados como se a gente não fosse ser humano, com direitos.
A gente está na luta pelo direito de moradia que não tem. É culpa de quem? Dos
governantes. E fui detido como se fosse bandido. Mas fui levado preso com muito
orgulho porque eu estava na luta”, disse José Ferreira Lima, o Zé Ferreira.
O
trabalhador e sua mulher, Talita, foram se juntar a outros trabalhadores e
lideranças em ato contra os despejos, a criminalização dos movimentos sociais e
em apoio ao coordenador do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST)
Guilherme Boulos. Boulos foi detido juntamente com Zé Ferreira na manhã desta
terça-feira. Ambos foram levados para a delegacia e liberados no final do dia,
sendo indiciados por resistência.
Embora
a ocupação não fosse coordenada pelo MTST, Boulos foi prestar assistência às
famílias e tentava negociar com a tropa de choque da Polícia Militar de Geraldo
Alckmin (PSDB) uma alternativa à desocupação violenta naquela manhã chuvosa, em
curso mesmo antes da abertura do fórum regional, impedindo assim o ingresso de
algum recurso judicial.
“Foi
uma barbárie. Uso de blindado, de aparato de guerra para tirar pessoas que não
tinham para onde ir. Infelizmente, isso não é um fato isolado: é regra, e não
exceção, numa clara ameaça ao que resta do pouco da democracia que tivemos”,
disse Boulos, que promete barrar outros despejos que devem acontecer em
fevereiro e março. “Para cada despejo que vamos denunciar, faremos novas
ocupações.” Um dia após o despejo na ocupação Colonial, em ato simbólico, 1500
pessoas ocuparam a Secretaria Estadual da Habitação.
A
violência do despejo realizado cinco anos após o do Pinheirinho, em São José
dos Campos (SP), e a detenção de Boulos, num claro recado do governo paulista
para intimidar os movimentos sociais, uniram lideranças que defendem a unidade
na luta. “Os governos de Michel Temer (PMDB) e de Alckmin usam de violência
porque querem desestimular a luta e a resistência contra essa agenda agressiva
aos trabalhadores”, afirmou o deputado federal Paulo Teixeira (PT).
O
parlamentar vai cobrar audiência com o governador Alckmin, que havia se
comprometido a recebê-lo, mas acabou cancelando. No encontro, pretende discutir
a repressão e violência policial. “Um governo autoritário, sem sensibilidade
social, que não entende que questões sociais, como moradia, se resolve com diálogo”,
disse, lembrando a comunidade de São José dos Campos.
"Não
existe direito sem luta e não há luta sem sofrimento. Vivemos um processo
histórico de acirramento das lutas. E este é mais um episódio grave. Não foi o
primeiro e não será o último", disse o juiz Alberto Muñoz, da Associação
Juízes para a Democracia.
Solidariedade
"Houve
truculência e a polícia tentou politizar a questão, dizendo que a ação de
Boulos é ideológica. É claro que é. E nossa ideologia tem princípios, sendo a
solidariedade uma das principais. Vamos continuar denunciando toda essa
atmosfera de repressão e de campanha contra aqueles que lutam por
direitos" - Douglas Izzo, presidente da CUT-SP.
"Não
vamos desistir da luta contra esse estado de exceção que está se colocndo"
- Juliana Cardoso, vereadora (PT).
"Essa
situação não é nova. São 500 anos de latifúndio, 300 de escravidão. Vivemos
tempo de tempestades, mas quem tem raízes não teme tempestades. A luta de
classes vai se intensificar em 2017. Serão muitas batalhas e espero que muitas
vitórias" - Gilmar Mauro, coordenador do MST.
"O
MTST teve papel de destaque na luta de professores e alunos em defesa da
educação, quando ocuparam escolas em 2015 contra a reorganização de Alckmin.
Toda solidariedade. Vamos tomar as ruas. O enfrentamento vai ser
cotidiano" - Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, presidenta da
Apeoesp.
"Ser
despejado é uma experiência muito difícil. Você ocupa um prédio abandonado,
resiste ao frio, ao calor, aos ratos, às baratas, sob a ameaça de despejo. Precisamos
não só de solidariedade, mas também de unidade na luta porque a desigualdade
vai aumentar e o trabalhador não tem outra alternativa senão a luta",
Miriam Figueroa - coordenadora da Central dos Movimentos Populares (CMP).
"Vamos
seguir resistindo contra essas ações criminosas de despejos", Guilherme
Fregonese, integrante do DCE - Livre da USP.
"Resistir
faz parte de nós, mas foi um circo dos horrores. O estado não garantiu o
direito daquelas famílias e havia oportunistas passando orientações contrárias
aos interesses dessas famílias. E a PM sequer esperou o fórum abrir justamente
para impedir que se esgotassem as possibilidades. E agora a subprefeitura de
São Mateus está se negando a cadastrar as famílias. Não tinha nada da
prefeitura. Nada, nem assistente social", Luciana Helth, da coordenação do
MTST.
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/01/em-ato-de-apoio-a-boulos-liderancas-defendem-unidade-contra-a-criminalizacao-dos-movimentos-sociais
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