domingo, 22 de janeiro de 2017

CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO. EM ATO DE SOLIDARIEDADE A BOULOS, LIDERANÇAS DEFENDEM UNIDADE NA LUTA POR MORADIA. Por Cida de Oliveira, da RBA




São Paulo – Apesar da chuva incessante, famílias de trabalhadores sem teto deixaram a casa de parentes nos extremos da capital paulista e cruzaram a cidade para lotar, na noite de ontem (19), o auditório do sindicato dos professores da rede estadual, a Apeoesp, na Praça da República, no centro. “Estou decepcionado com nossos governantes. Com outras 700 famílias, perdi meu barraco na ocupação Colonial, em São Mateus. Havia idosos, crianças, pessoas deficientes, gestantes. Fomos despejados como se a gente não fosse ser humano, com direitos. A gente está na luta pelo direito de moradia que não tem. É culpa de quem? Dos governantes. E fui detido como se fosse bandido. Mas fui levado preso com muito orgulho porque eu estava na luta”, disse José Ferreira Lima, o Zé Ferreira.

O trabalhador e sua mulher, Talita, foram se juntar a outros trabalhadores e lideranças em ato contra os despejos, a criminalização dos movimentos sociais e em apoio ao coordenador do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) Guilherme Boulos. Boulos foi detido juntamente com Zé Ferreira na manhã desta terça-feira. Ambos foram levados para a delegacia e liberados no final do dia, sendo indiciados por resistência.

Embora a ocupação não fosse coordenada pelo MTST, Boulos foi prestar assistência às famílias e tentava negociar com a tropa de choque da Polícia Militar de Geraldo Alckmin (PSDB) uma alternativa à desocupação violenta naquela manhã chuvosa, em curso mesmo antes da abertura do fórum regional, impedindo assim o ingresso de algum recurso judicial.

“Foi uma barbárie. Uso de blindado, de aparato de guerra para tirar pessoas que não tinham para onde ir. Infelizmente, isso não é um fato isolado: é regra, e não exceção, numa clara ameaça ao que resta do pouco da democracia que tivemos”, disse Boulos, que promete barrar outros despejos que devem acontecer em fevereiro e março. “Para cada despejo que vamos denunciar, faremos novas ocupações.” Um dia após o despejo na ocupação Colonial, em ato simbólico, 1500 pessoas ocuparam a Secretaria Estadual da Habitação.

A violência do despejo realizado cinco anos após o do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), e a detenção de Boulos, num claro recado do governo paulista para intimidar os movimentos sociais, uniram lideranças que defendem a unidade na luta. “Os governos de Michel Temer (PMDB) e de Alckmin usam de violência porque querem desestimular a luta e a resistência contra essa agenda agressiva aos trabalhadores”, afirmou o deputado federal Paulo Teixeira (PT).

O parlamentar vai cobrar audiência com o governador Alckmin, que havia se comprometido a recebê-lo, mas acabou cancelando. No encontro, pretende discutir a repressão e violência policial. “Um governo autoritário, sem sensibilidade social, que não entende que questões sociais, como moradia, se resolve com diálogo”, disse, lembrando a comunidade de São José dos Campos.

"Não existe direito sem luta e não há luta sem sofrimento. Vivemos um processo histórico de acirramento das lutas. E este é mais um episódio grave. Não foi o primeiro e não será o último", disse o juiz Alberto Muñoz, da Associação Juízes para a Democracia.

Solidariedade

"Houve truculência e a polícia tentou politizar a questão, dizendo que a ação de Boulos é ideológica. É claro que é. E nossa ideologia tem princípios, sendo a solidariedade uma das principais. Vamos continuar denunciando toda essa atmosfera de repressão e de campanha contra aqueles que lutam por direitos" - Douglas Izzo, presidente da CUT-SP.

"Não vamos desistir da luta contra esse estado de exceção que está se colocndo" - Juliana Cardoso, vereadora (PT).

"Essa situação não é nova. São 500 anos de latifúndio, 300 de escravidão. Vivemos tempo de tempestades, mas quem tem raízes não teme tempestades. A luta de classes vai se intensificar em 2017. Serão muitas batalhas e espero que muitas vitórias" - Gilmar Mauro, coordenador do MST.

"O MTST teve papel de destaque na luta de professores e alunos em defesa da educação, quando ocuparam escolas em 2015 contra a reorganização de Alckmin. Toda solidariedade. Vamos tomar as ruas. O enfrentamento vai ser cotidiano" - Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, presidenta da Apeoesp.

"Ser despejado é uma experiência muito difícil. Você ocupa um prédio abandonado, resiste ao frio, ao calor, aos ratos, às baratas, sob a ameaça de despejo. Precisamos não só de solidariedade, mas também de unidade na luta porque a desigualdade vai aumentar e o trabalhador não tem outra alternativa senão a luta", Miriam Figueroa - coordenadora da Central dos Movimentos Populares (CMP).

"Vamos seguir resistindo contra essas ações criminosas de despejos", Guilherme Fregonese, integrante do DCE - Livre da USP.

"Resistir faz parte de nós, mas foi um circo dos horrores. O estado não garantiu o direito daquelas famílias e havia oportunistas passando orientações contrárias aos interesses dessas famílias. E a PM sequer esperou o fórum abrir justamente para impedir que se esgotassem as possibilidades. E agora a subprefeitura de São Mateus está se negando a cadastrar as famílias. Não tinha nada da prefeitura. Nada, nem assistente social", Luciana Helth, da coordenação do MTST.

http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/01/em-ato-de-apoio-a-boulos-liderancas-defendem-unidade-contra-a-criminalizacao-dos-movimentos-sociais






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