Por
incrível que pareça, a crise carcerária que transbordou do tonel de postergação
dos grandes problemas nacionais tem muito a ver com o recente episódio
envolvendo o agora ex-secretário Nacional de Juventude dito “Bruno Julio”, que
não surpreendeu com bobagem de proporções titânicas que proferiu sobre os
massacres de presidiários.
Esse
indivíduo não surpreendeu ao pregar publicamente que seja perpetrada uma
chacina de presidiários por semana porque integra lista de nomeação de filhos
de políticos que o presidente Fora Temer divulgou em junho deste ano.
Somente
no primeiro escalão, além de Bruno Julio, Temer colocou o filho do senador
Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), o filho do deputado estadual fluminense Jorge
Picciani (PMDB-RJ), o filho do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e o filho do
senador Jader Barbalho (PMDB-PA).
Só
podia dar nisso, nomear pessoas por serem filhas de A ou B. E deu. Houve que
exonerar com urgência o imbecil que disse uma enormidade dessas, o que
mancharia inapelavelmente a imagem do Brasil em TODOS os organismos
internacionais que integra e perante a comunidade da nações…
Por
isso, e só por isso, Fora Temer o demitiu. Porque, apesar de pensar igual
(considera que o morticínio foi “acidente”), sabe que teria problemas com
outros países se mantivesse uma besta como essa em seu governo.
Falando
sério: que país democrático tem membros do governo pregando massacres de seres
humanos?
E
atente bem para o seguinte: ainda que você possa achar que presidiários não são
seres humanos, essa sua opinião é uma imbecilidade que faria você passar
vergonha em qualquer ambiente civilizado em que fosse proferida.
Mas
o que tem o lamentável Bruno Julio e o governo golpista com o título deste
post?
O
título em questão cita um fato que pouca gente sabe, ou seja, que apesar de o
Brasil ser o quarto país com maior número de presidiários no mundo inteiro, é
um país no qual a criminalidade e a violência crescem na mesma medida em que
aumenta a população carcerária. E o Brasil prende cada vez mais gente por conta
da opinião do imbecil secretário exonerado.
Após
a previsível demissão de quem disse publicamente uma cretinice de proporções
tão épicas, o deputado federal Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG), outro filho de
alguém, divulgou nota em sua defesa. Newtinho, como é conhecido o tal deputado,
disse que Bruno Julio “teve a coragem de expressar a opinião e indignação da
maioria dos cidadãos brasileiros”.
Agora
a grande pergunta: ele está errado? A resposta vem de pesquisa Datafolha
divulgada em 5 de outubro de 2015, há pouco mais de um ano.
Como
se vê, esses políticos são mero reflexo de uma parcela descomunal de gente
psicótica, estúpida, iletrada, preconceituosa e efetivamente burra que há neste
país. Para que se tenha uma ideia da quantidade de animais bípedes com título
de eleitor que este país abriga, basta saber que APENAS 45% dos pesquisados
pelo Datafolha discordam da teoria nazista de que bandido bom é bandido morto.
Quando
alguém vem me falar da “corrupção dos políticos”, gosto de lembrar que a classe
política de um país reflete o povo que habita esse país. Como gosta de dizer o
filósofo Leandro Karnal, “Não existe país com governo corrupto e população
honesta”.
O
Drama é esse. E é descomunal. O Brasil tem uma política carcerária e uma
política de Segurança Pública, apesar de que a questão carcerária é, per si,
uma questão de Segurança Pública. Deveria, pois, ser uma política só.
E
notem que, de 2006 para cá, uma lei parcialmente equivocada fez a população
carcerária explodir no Brasil; só os presos por tráfico de drogas passaram de
31 mil para 138 mil no país, enquanto que, de 2000 para cá, DOBROU nossa
população carcerária, atingindo 622 mil detentos.
Além
disso, tráfico é crime que mais encarcera; aumento foi de 339% desde 2006,
quando a Lei 11.343 começou a valer. Essa lei deixou o consumidor de drogas
livre da prisão, mas estabeleceu uma quantidade drogas acima da qual se a
pessoa portasse seria considerada “traficante”.
Contudo,
como a lei deixa margem à subjetividade do agente policial, qualquer quantidade
de drogas começou a ser vista como tráfico e, assim, o número de presos por
esse crime disparou. O tráfico de drogas é hoje o crime que mais resulta em
prisões no Brasil, segundo o estudo. 28% dos presos brasileiros respondem
processo ou foram condenados por esse crime.
Uma
década atrás, havia 31.520 presos por tráfico nos presídios brasileiros. Em
junho de 2013, esse número passou para 138.366, um aumento de 339%. Nesse mesmo
período, só um outro crime aumentou mais dentro das cadeias: tráfico
internacional de entorpecentes (446,3%).
Com
isso, a população carcerária do Brasil já é a quarta do mundo, superando países
muito mais populosos, como a Índia, que tem seis vezes mais habitantes que o
Brasil.
O
número de presos também é alto quando comparado ao tamanho da população. No
Brasil, são 306 presos para cada 100 mil habitantes. A média mundial é de 144
presos por 100 mil pessoas.
Além
disso, grande parte dos presos brasileiros (cerca de 250 mil pessoas) está
detida de forma provisória. Isto é, são pessoas que não foram condenadas nem
mesmo em 1ª Instância e que aguardam julgamento.
Segundo
o estudo, há indícios de que parte dessas pessoas, caso condenadas, não
receberiam penas de privação de liberdade. Ou seja, estão presas injustamente,
seja qual for a decisão da Justiça sobre elas.
Por
conta da lenda urbana de que as leis e as prisões brasileiras são “frouxas com
bandidos”, os políticos covardes (como o povo do seio do qual são extraídos)
que têm o Poder na mão, ou seja, governadores de Estado, não investem praticamente
nada em estrutura carcerária, sobretudo em termos de humanizar as prisões, por
medo de serem acusados de ser “bonzinhos com bandidos”.
A
pregação dos programas policialescos da TV (sempre a mídia, com Datenas e
outras excrescências) criou uma legião avassaladora de imbecis que sempre que
ouvem falar de crimes já sacam suas frases prontas sobre “direitos humanos para
bandidos”, sobre “bandido bom ser bandido morto” etc.
O
Judiciário, movido por um conservadorismo atroz, um punitivismo canhestro, joga
gente que jamais deveria cumprir pena em regime fechado no meio de assassinos,
estupradores, monstros de todo tipo. O garoto que roubou um CD player de carro
é colocado junto a chefes do tráfico e até assassinos psicóticos.
Além
disso, o punitivismo comete injustiças contra grupos sociais imensos,
majoritários. Pessoas negras (pretas e pardas) são maioria nas cadeias
brasileiras. Segundo o estudo do Depen, 61,6% dos presos pertencem a esse
grupo. Já entre o conjunto dos brasileiros, pretos e pardos são 53,6%.
Ninguém
duvida de que haverá muito reaça dizendo que negros cometem mais crimes mesmo,
afinal o Brasil é um país racista, como mostram os renitentes ataques racistas
que se vê até na grande mídia, contra celebridades – imagine o que não sofrem os
anônimos.
Os
números do Depen também mostram que os presos têm menor escolaridade que a
média da população. 75% dos presos só estudaram até o fim do ensino
fundamental, e só 9,5% concluiu o ensino médio. Já na população brasileira, 32%
terminaram o ensino médio, de acordo com dados de 2010 do IBGE.
Nada
disso interessa à direita e a essa parcela da população que a mídia e políticos
inescrupulosos imbecilizaram. As pessoas não sabem que essa política de prender
indiscriminadamente em masmorras medievais está piorando os níveis de
criminalidade em vez de melhorar.
E
está piorando a perversidade dos crimes. Nem crianças são poupadas das piores
atrocidades. A impiedade dos criminosos é cada vez maior, o volume de crimes
não diminui apesar de as prisões estarem cada vez mais lotadas e de as penas
serem cada vez mais duras por conta de que os locais de aprisionamento ficam
cada vez mais espremidos.
O
proibicionismo contra as drogas tem efeito contrário ao pretendido. Cada vez
mais gente usa drogas, a oferta de drogas nunca foi tão farta. Proibir as
drogas não faz cair o tráfico ou o consumo, apenas faz aumentar a população
carcerária – 70% das mulheres presas cometeram crimes ligados ao tráfico.
De
que adiantam todos esses dados? Nos comentários do post logo você vai ver
palavras de ordem a favor da violência policial, das prisões desumanas e contra
os direitos humanos, que deveriam ser unanimidade entre os membros da mesma
espécie, mas que foram pintados para a população inculta como “regalias para
bandidos”.
Há
um dito popular adequado à situação: quando a cabeça não pensa, o corpo padece.
Como a maioria dos brasileiros não quer se informar com tais dados, preferindo
recitar bordões (que ouviu de políticos ou na mídia) contra direitos humanos,
processo penal justo, prisões decentes, a criminalidade vai continuar subindo e
fazendo vítimas.
*
PS 1 : Liberação das
drogas em Portugal fez o consumo despencar
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/22/internacional/1461326489_800755.html
PS 2 : Fascistas pedem
que polícia mate bandidos em vez de prender, mas o Brasil tem a polícia que
mais mata no mundo e criminalidade só aumenta
http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2015/09/forca-policial-brasileira-e-que-mais-mata-no-mundo-diz-relatorio.html
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/eduardoguimaraes/274098/Brasil-j%C3%A1-tem-4%C2%AA-popula%C3%A7%C3%A3o-carcer%C3%A1ria-e-criminalidade-s%C3%B3-aumenta.htm
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