Luiz
Carlos Ruas. Viveu invisível, como milhões de brasileiros que são, como ele,
ambulantes.
Virou
notícia na morte, aos 54 anos, na noite de Natal, no metrô de São Paulo.
Eu
ia dizer que só então o enxergaram, mas eu estaria mentindo.
Ele
continuou invisível enquanto dois homens jovens o espancavam até a morte. A
idade somada dos dois não chegava à dele.
Ruas
estava invisível para os circunstantes, e assim os agressores puderam bater, e
bater, e bater.
Em
certo momento, como mostra um vídeo, os dois pareceram ter cansado de bater no
ambulante estirado no chão.
Mas
não. Eles voltaram e bateram mais. Luiz Carlos Ruas agonizou invisível.
Ninguém
o socorreu. Onde os vigilantes do metrô? Onde pessoas solidárias?
A
morte invisível é banal num país em que pobres não valem nada.
Entendo
isso, embora lamente profundamente.
Mas
a morte invisível não.
Ninguém
viu Luiz Carlos Ruas em vida, mas sua morte tem que ser celebrada como o
martírio de um heroi.
Ele
morreu por fazer o que ninguém faz: defender alguém - outro invisível - que
estava sendo atacado pelos dois homens que acabaram por assassiná-lo. Foi morto
pelo ódio. Morreu por amor.
Luiz
Carlos Ruas, o ambulante invisível, é aquele tipo de heroi que amanhã todos
terão esquecido.
Ou
hoje mesmo.
Mas
em sua lápide certamente simples, tosca, remota, típica dos homens e mulheres
invisíveis do Brasil, deveria estar escrito assim.
LUIZ CARLOS RUAS
(1962-2016)
FOI UM HEROI
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/um-heroi-invisivel-o-martirio-do-ambulante-luiz-carlos-ruas-por-paulo-nogueira/
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