Para
que o golpe triunfasse, foi preciso que seus meios de comunicação conseguissem,
pelo menos por um momento, apagar da memória dos brasileiros, seu passado
recente. Foi preciso forjar na cabeça dos brasileiros a ideia de que o problema
principal do país é o da corrupção e, em particular, da corrupção do PT.
Quando
a Dilma foi reeleita, no final de 2014, 74% dos pesquisados pelo Vox Populi
reconheciam que sua vida tinha melhorado desde 2003. No momento da votação do
golpe na Câmara, naquele domingo vergonhoso pro Parlamento e pro país, essa
cifra diminuído para a metade. Isto é, a brutal campanha da mídia tinha
conseguido apagar da mente das pessoas tudo o que sua vida tinha melhorado e
colocar no lugar a corrupção e os gastos estatais, uma espécie da ressaca de
uma farra que o país não poderia se permitir.
Sem
apagar da memória das pessoas como sua vida tinha melhorado substancialmente
desde 2003, era impossível fazer do governo da Dilma a responsável por todos os
males do país e preparar o clima para derrubá-lo. Predominou a teoria dos que
comandam a Lava Jato, de que tudo o que aconteceu no Brasil desde 2003 foi uma
farsa, promovida pela corrupção do PT a partir das empresas públicas.
A
presença desse passado virtuoso para o povo brasileiro, para a democracia
brasileira, são obstáculos para que se consolide o golpe, e por isso precisa
ser eliminado. Acontece que, conforme os direitos adquiridos são atacados,
volta à consciência das pessoas o tempo em que eles foram adquiridos. A própria
persistência da liderança do Lula expressa essa perdurabilidade de um passado
que não passa.
Mas
o golpe ataca não apenas o passado do país, mas também o seu futuro. Ancorado
em diagnósticos sem raiz na realidade, fez aprovar a PEC do teto dos gastos
sociais, que compromete o futuro não apenas no plano social, mas também compromete
a retomada do desenvolvimento com distribuição de renda, fator essencial no
sucesso do Brasil neste século.
O
golpe pretende fixar o país num presente sem passado nem futuro, suspenso no
ar. Pretende retirar o caráter histórico do país, enraizado num passado que
busca superar e num futuro a que se projetava, com as conquistas obtidas nos
anos anteriores. Se pretende a anulação do Brasil como país, como projeto de
nação, com o potencial econômico que possui, com a diversidade social que
mantém, com a capacidade política de se projetar como potência emergente no
mundo.
É
um projeto de anulação do país como sociedade de convivência na diversidade, de
construção coletiva de uma democracia que expresse a pluralidade social e
cultural do país. É um projeto de liquidação do potencial político de liderança
regional e do Sul do mundo que o Brasil revelou possuir.
O
governo do golpe destrói a imagem do Brasil diante dos brasileiros e diante do
mundo. Quer reduzi-lo a um país sem dignidade e sem auto estima. Se não for
derrubado, o governo golpista passará à historia como o coveiro da democracia,
dos direitos da massa da população e da própria identidade nacional.
Um
país sem historia não tem como traçar seu futuro, não tem como acertar contas
com seu passado, não tem como se transformar num projeto de sociedade
democrática e pluralista. O golpe se confirma como golpe ao tentar expropriar a
própria possibilidade de um futuro decidido democraticamente pela povo
brasileiro.
http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/270661/O-golpe-quer-um-Brasil-sem-passado-e-sem-futuro.htm
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