Até
entre as posições mais progressistas, muita gente tem receio de enfatizar a
participação dos Estados Unidos no golpe que derrubou a presidente legítima do
Brasil. Isto apesar das múltiplas evidências que ligam todos - Michel Temer,
José Serra, Sérgio Moro, MBL etc. - a grupos estadunidenses. E apesar do que
tem ocorrido nos últimos anos nos outros países da América Latina.
Falar
da interferência dos Estados Unidos parece coisa de teoria conspiratória. Acho
que há uma ideia difusa que a participação estadunidense na política
latino-americana se devia apenas à Guerra Fria - e não ao imperialismo. E há,
também, o fato de que os construtores das narrativas dominantes, na mídia
corporativa, fazem questão de ignorar esta faceta do golpe (assim como muitas
outras).
Quando
Edgar Morel publicou, em 1965, seu livro hoje clássico, O golpe começou em
Washington, também se colocava contra a interpretação hegemônica. Hoje, a
participação estadunidense na derrubada de João Goulart, assim como na eclosão
das outras ditaduras da região, é incontestável.
Os
Estados Unidos, hoje como ontem, zelam pelos interesses de seus capitalistas
usando as armas de que puderem dispor. E mesmo que Temer não fosse informante
da embaixada, que Moro não mostrasse tanto medo de que se desvendem as conexões
estrangeiras da Lava Jato, que os movimentos "espontâneos" da direita
brasileira não fossem filhotes da Atlas Foundation - mesmo assim, já daria para
desconfiar de um golpe que incluiu, entre suas primeiras medidas, colocar José
Serra no Itamaraty, liquidar qualquer risco de política externa independente e
entregar o petróleo.
Luis
Felipe Miguel é professor de ciência política da Universidade de Brasília
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/luisfelipemiguel/268728/H%C3%A1-participa%C3%A7%C3%A3o-dos-EUA-no-golpe-contra-Dilma.htm
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