terça-feira, 1 de novembro de 2016

O OBSCURANTISMO VENCEU A ESPERANÇA?

O obscurantismo medieval ameaça o mundo, também o Brasil.

“Donde trovões profundos rugem, bramam
Parecendo no Céu do Inferno a imagem?
Se pode ele imitar as trevas nossas,
Imitar sua luz nós não podemos?!”
(Canto III – Paraíso Perdido, John Milton)

Quando Lula disputava pela quarta vez a presidência, em 2002, o tema “A Esperança vai vencer o Medo”. Então fez a “Carta aos Brasileiros”, documento em que reafirmava o PT como o partido da ordem, que não faria rupturas e governaria dentro dos marcos do Kapital, sem surpresas, confiscos e toda uma série de obviedades que precisavam ser reafirmadas.

Por quatros eleições o PT e a Esquerda cresceram amplamente em todo o país, sem, no entanto, se tornar hegemônico. Toda a maioria eleitoral e congressual era conseguida com um amplo arco de alianças, inclusive com setores de centro-direita. Claro que o PT era a força determinante e dava o Norte aos governos de contradições insolúveis, mas de nítidos avanços sociais, ajudado por um longo período de crescimento econômico.

Os limites sempre foram a decisão Política, consciente, de que era possível levar em frente um programa de inclusão econômica e distribuição de renda, ainda que a Crise Mundial já estivesse pressionando e impondo estreitos marcos de ampliar as conquistas. A virada definitiva se deu ainda sob Lula, em agosto de 2010, com um pacote de contingenciamento de gastos públicos.

O primeiro mandato de Dilma já se deu com espaço de manobra bastante reduzido, a perda de fôlego econômico era nítida, a aposta feita em 2009 de que a Crise mundial abrandaria e o Brasil teria uma solução sem solavanco se demonstrou errada. A perda da capacidade política rapidamente fez desmoronar o governo com as jornadas de junho de 2013.

Movimento iniciado contra aumento de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus municipais se transformou em explosivas manifestações de massas contra o Governo do PT. A demora de entender a virada conjuntural e a inabilidade de lidar com movimento de ruas contrários acabou apressando os fatos e cristalizando uma nova realidade. Tudo o que tinha sido feito em dez anos, se perdeu por 0,20.

A improvável vitória de Dilma nas eleições de 2014 não chegou nem mesmo a ser comemorada. Os ataques se tornaram impiedosos, tornando inviável qualquer governabilidade. A aliança com as forças de centro-direita tinha se rompido, o congresso foi completamente dominado por forças extremamente conservadoras, a queda era questão de tempo. O que foi facilitado pela Operação Lava jato em parceria com a grande mídia.

O segundo governo Dilma não saiu do papel, os ataques diários e constantes, nenhuma linha de defesa, a crise econômica se torna incontrolável, parte pelo boicote dos empresários golpistas, parte pelas ações da Lava jato que quase quebrou a Petrobrás, mas destruiu o setor de construção civil, com a perda de milhões de empregos. O impeachment, sem crime, foi um “passeio”, assim como as seguidas derrotas dos trabalhadores no congresso, como a PEC 241.

É insofismável que a Esquerda foi quase varrida nessas eleições. Em maior relevo, o PT. A derrota foi de forma avassaladora, especialmente nas duas mais importantes cidades do país, São Paulo e o Rio de Janeiro, elegeram: Duas figuras grotescas, obscuras e patéticas.

É como se a idade média tivesse regurgitado uma legião de idiotas diretamente para 2016, cheio de ódios e preconceitos, prontos para destruir o “mundo pecador”, vide o pastor-MP e o juiz-justiceiro. As Fogueiras medievais foram acesas. Pode parecer pessimismo, mas é bem consciente. Penso que os horrores destampados pelas jornadas de junho de 2013, agora se estabeleceu.

Houve uma negação generalizada da Política, as abstenções somadas aos votos nulos e brancos, venceram em quase todos as grandes cidades. Em parte, é o repúdio a todos, mas por outro lado é preocupante, pois favorece aos projetos mais obscuros e tacanhos, que beira ao fascismo aberto e se impõe como Estado de Exceção.

Aliás, essa realidade de negação já se deu em quase todo o mundo, nas últimas eleições italianas em torno de 40% de abstenções, o que chamo de Estado Gotham City, prescinde de Política e Democracia, é o reino da burocracia permanente que trabalha fielmente para viabilizar o Kapital, a sua parcela dominante, os grandes bancos.

Esse Estado é força, repressão política e ideológica, aberta ou seletiva, de acordo com cada situação.

Temo que em breve essa escumalha nos proíba até de falar e nos ataquem em qualquer lugar, apenas por pensarmos diferente, nem será preciso ser de esquerda. Pouco espaço nos sobrou, a reconstrução será dolorida, ou teremos uma longa jornada nas Trevas. Estamos sem programa, partido, nem mesmo para jogar a culpa em um ou noutro.

A que horas vamos acordar?

http://linkis.com/arnobiorocha.com.br/bAv4v






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