Empregando
as palavras como elas são, é preciso dizer que o fascismo age exatamente como
fizeram 50 pessoas que invadiram o plenário da Câmara ontem. Quebraram vidros,
ameaçaram parlamentares. Pediram o retorno à ditadura militar, saudaram Sérgio
Moro. E foram embora, sem serem incomodados. Parecem loucos descontrolados. São
criminosos políticos.
O
fascismo não existe sem o silêncio cúmplice e a passividade de quem tem o dever
legal de combater a desordem, arruaça, e violência e dar ordem de prisão em
casos dessa natureza, em que uma instituição é humilhada, ofendida. E foi
exatamente isso que se viu, ontem: tolerância com um ataque a democracia -- se
não foi coisa pior.
Um
Congresso que possui uma polícia legislativa treinada, bem paga, equipada em pé
de igualdade à Polícia Federal, assistiu a tudo de braços cruzados. Habituada a
demonstrações cotidianas de autoridade e mesmo truculência, sumiu de cena, rabo
entre as pernas. A mesma polícia legislativa acusada de extrapolar suas funções
em vários momentos, que impediu o ingresso de jornalistas documentados e
reconhecidos, nos dias de votação do impeachment -- eu estava lá e vi -- agora
abaixou a cabeça, ficou quietinha. Tinha o dever de arrancar os invasores no
tapa, impedindo sua presença no local por um minuto sequer. A cena lamentável,
traumática, deprimente, simplesmente não poderia ter ocorrido.
A
ocupação do plenário da Câmara, seu centro de decisões, local sagrado do ponto
de vista da democracia, pois ali só pode ter acesso quem representa o voto
popular, por uma turba embriagada pela própria truculência, por um poder
perigoso, subitamente revelado em sua infinita boçalidade, é um novo passo na
degradação da ordem publica, no esforço consciente e deliberado de paralisação
e desmoralização de um dos apoios no tripé da democracia. O ataque pode ser e é
obra de imbecis. Mas vamos reconhecer que tem sentido de direção. O alvo é o
elo mais fraco, aquele que é massacrado todos os dias, pelo comportamento
irresponsável de muitos que estão do lado de dentro -- e campanhas permanentes,
injustas, direcionadas, contra os adversários autoritários de fora, justamente
porque torcem por um incêndio incontrolável.
Não
há como negar. O longo e criminoso ataque à democracia começou de cima para
baixo, com a deposição de uma presidente eleita, sem prova de crime de
responsabilidade. O que veio a seguir é consequência. Começa pela fragilidade
estrutural de um sucessor marcado para morrer -- com data definida, quando não
for possível chamar o eleitor para dizer que pretende, quem prefere, como seria
o certo depois de tantos errados.
A
ausência de Rodrigo Maia é sintomática. Embora fosse segunda-feira, o
presidente da Câmara não estava onde deveria. Está no manual que compõe o
cenário das tragédias políticas que à cadeira decisiva, se encontre o destruído
Waldir Maranhão. Na dúvida, veja sua expressão nas fotos.
Em
1922, o ministério parlamentar dormia quando Roma caiu nas mãos dos homens de
Mussolini. Era madrugada, vamos reconhecer.
Dias
antes, quando seria possível fazer alguma coisa, comandantes militares chegaram
a aguardar por ordens do gabinete civil. Teria sido possível -- na pior das
hipóteses -- pelo menos morrer com dignidade. A ordem não veio. Quando os
ministros resolveram pedir a Vitório Emanuel que assinasse o Estado de Sítio,
era tarde demais. O Rei se entendera com Mussolini, a quem os mais ponderados consideravam
o menos louco. Sua ditadura durou 20 anos.
http://www.brasil247.com/pt/blog/paulomoreiraleite/265834/O-fascismo-%C3%A9-assim-Como-ontem.htm
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