O
que é o “atraso” e o que é o “progresso”? Para a direita brasileira,
“progresso” é dizimar as nações indígenas, roubar suas terras, destruir sua
cultura; “civilizar”, ou seja, aniquilar o índio. Para a esquerda, isto é
atraso, é retrógrado. Ser “avançado”, para nós, é respeitar e valorizar a
cultura indígena e contribuir para que eles mesmos escolham o caminho que
querem seguir.
Enquanto
aqui no Brasil ainda se matam índios, na Bolívia, presidida há dez anos por um
indígena, Evo Morales, o cidadão indígena está se abrindo ao mundo. Enquanto
aqui a meia dúzia de famílias que detém os meios de comunicação não quer nem
ouvir falar em democratização da mídia, na Bolívia, os índios traçam o caminho
para ter seus próprios veículos. Enquanto aqui políticos são donos de meios de
comunicação (mesmo vedado pela Constituição), na Bolívia serão indígenas.
Esta
semana, acontece em Cochabamba a III Cumbre de Comunicação Indígena.
Participantes de 28 países estão discutindo a construção de canais de TV e
rádio dirigidas pelos próprios índios, com repórteres, cinegrafistas, equipe de
produção… todos indígenas. Aqueles que normalmente a mídia comercial ignora e
invisibiliza, mas que na Bolívia são maioria da população (62%).
“Queremos
dizer ao mundo que queremos estar presentes e que não queremos estar
circunscritos dentro de um pequeno território e dentro de uma fronteira. Chega
de estar dentro de parques, de reservas, porque somos seres pensantes como
vocês e queremos estar presentes em todos os horários e nos meios de
comunicação”, declarou Marianela Paco, ministra da Comunicação do país.
A
ideia é descolonizar e despatriarcalizar a narrativa midiática, dentro de um
projeto ambicioso de descolonização em geral. Sabem o que é descolonizar? É
passar a escrever as notícias e contar a História de uma forma não contaminada
pela versão do colonizador, dos brancos da elite que se apoderaram também da
narrativa. Assim como descolonizar é derrubar estátuas e monumentos que
homenageiam genocidas indígenas, por exemplo – como é o caso dos monumentos aos
sanguinários bandeirantes em São Paulo, que dão nome até ao palácio do governo.
Em
2011, com a aprovação da nova Lei de Comunicação na Bolívia, ficou fixado que
33% das concessões ficarão com o setor privado, 33% com o setor público, 17%
com os povos indígenas e 17% para as comunidades. No ano que vem, acaba a
maioria das licenças outorgadas aos donos meios de comunicação pelos sucessivos
governos de direita pelo prazo de 20 anos, e então vai acontecer a
redistribuição das concessões. Evo Morales governa até 2019.
No
Brasil, o tempo de concessão é de 15 anos para TV e 10 para rádio e apenas se
renovam. Após a ditadura, houve farta distribuição de concessões, mas apenas
aos políticos e seus apaniguados.
Na
Bolívia já existem cerca de 500 rádios comunitárias, muitas delas bilíngues,
com transmissões em aimará e castelhano, mas a expectativa é que o fim das
concessões impulsione as emissoras de rádio e TV conduzidas por indígenas. Isso
para mim é o futuro.
http://www.socialistamorena.com.br/governo-boliviano-quer-indigenas-a-frente-de-meios-de-comunicacao/
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