Nem
bem terminava, na segunda (12), a novela Cunha, o núcleo curitibano da Lava
Jato meteu o pé pelas mãos e abriu o capítulo mais grave desta crise. Depois da
condução coercitiva e da divulgação de fitas ilegais, a exposição do procurador
Deltan Dallagnol na tarde de quarta (14) foi tão vazia que caiu mal até nas
hostes antipetistas. Em lugar da seriedade técnica que sobressaía nas primeiras
aparições, o jovem funcionário deixou-se levar por arroubos que tiraram a
credibilidade da denúncia contra Lula.
Isto
posto, embora a derrapada dê ao ex-presidente vantagem na largada da nova
partida, por outro lado deixa o país embrulhado numa situação delicada. O juiz
Sergio Moro, autor das duas descabidas ações anteriores, está moralmente
comprometido a aceitar a denúncia oferecida pelo Ministério Público. Com isso,
irá deflagrar processo político cujo único julgador será ele mesmo, que não é
instância adequada nem suficiente para julgar o que Dallagnol colocou em pauta.
O
que vem pela frente é mais sério do que o impeachment de Dilma Rousseff. Convém
lembrar que a ilegítima destituição da presidente foi decidida por um colegiado
senatorial. As acusações eram de responsabilidade e a perda do poder por quem
venceu nas urnas, embora manche a democracia, poderia ser corrigida pelo
andamento da luta eleitoral, pois o PT teria chance de voltar a vencer.
Agora,
o que está em questão é estrutural. Trata-se da tentativa de proscrever Lula e
o PT do cenário para sempre, o que dará lugar a uma batalha de proporções
épicas. Ao transformar as acusações específicas a Lula, na realidade, pequenas,
ainda que desconfortáveis, no combate a uma suposta organização criminosa em
que teria se convertido o PT, o procurador fez-se porta-voz da histeria
ideológica que deseja “acabar com essa raça”, como dizia um senador anos atrás.
Dallagnol
não entende duas coisas. A primeira é que Lula e o PT ocupam um espaço
garantido no Brasil. Por mais que sofram revezes, cometam erros — que
precisariam ser explicados e corrigidos– e experimentem derrotas— como
certamente vai acontecer nesta eleição municipal —, o partido e sua principal
liderança respondem à necessidade profunda de representar as camadas populares
no processo democrático.
Em
segundo lugar, que a esquerda é especializada em resistir. Por ter nascido e
crescido em oposição à ordem estabelecida, sabe melhor que ninguém como
sobreviver em condições desfavoráveis. Não foi acaso que Lula, de camiseta
vermelha, mencionou no discurso pronunciado quinta-feira (16) o orgulho de haver
criado o maior partido de esquerda da América Latina. A mesma esquerda, por
vezes, tão maltratada em outras frases suas.
Por
Fernando Brito
http://www.tijolaco.com.br/blog/43799-2/
Nenhum comentário:
Postar um comentário