O
golpe chegou às escolas. Em vez de promover amplo debate sobre o que deve mudar
na Educação, Michel Temer assinou uma medida provisória que institui
retrocessos evidentes, como a tendência à supressão do curso noturno e a não
obrigatoriedade do ensino de artes e educação física no Ensino Médio. De forma
arbitrária, Temer torna a educação pública menos inclusiva (o período noturno
responde hoje por um terça das matrículas e é fundamental para quem trabalha
durante o dia, impossibilitado de migrar para o ensino diurno, integral ou não)
e estabelece um modelo de escola voltado mais para o mercado do que para a
formação integral do estudante (o que acontece quando se retiram disciplinas e
se obrigam jovens de 14 anos a escolher um campo de estudos).
Tal
medida provisória veio se somar à já extensa lista de golpes que se sucedem
desde o golpe principal, que tirou do governo uma presidenta honesta para
substituí-la por um presidente sem voto, associado a Eduardo Cunha, citado
repetidas vezes nos escândalos da Eletronuclear e contra quem há graves
denúncias na gestão do Porto de Santos.
A
cada semana, um assombro. Quando foi deflagrado o golpe na Educação, a opinião
pública ainda tentava assimilar, perplexa, outro golpe: a notícia de que um
grupo de jovens fora detido em dia de manifestação após a delação de um capitão
do Exército infiltrado. A mando de quem? Com quais instruções? Essas perguntas
precisam ser respondidas pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e
também pelos ministros da Defesa, Raul Jungmann, e do Gabinete de Segurança
Institucional, o general do Exército Sérgio Etchegoyen, já convocados pela
liderança da oposição no Senado e na Câmara dos Deputados.
São
graves as evidências de que a Polícia Militar do Estado de São Paulo e a Secretaria
de Segurança Pública de Alckmin empregaram deliberadamente um agente duplo,
cedido pelo Exército. Trata-se de expediente típico de ditaduras e que não pode
ser tolerado numa democracia. Tal expediente se configura mais um abuso entre
os tantos que vêm sendo cometidos pela Polícia de São Paulo ao reprimir
manifestações pacíficas com cassetetes, bombas de efeito moral, gás
lacrimogêneo e spray de pimenta. O uso desproporcional e incorreto da força
nesses episódios afronta o direito constitucional à livre manifestação.
Um
quarto golpe igualmente temerário materializa-se no risco iminente de desmonte
da Previdência. O que Temer propõe não é uma transição motivada por fatores
etários, mas a retirada de direitos previdenciários conquistados em décadas de
luta da classe trabalhadora. Golpe semelhante afeta os direitos trabalhistas,
com o projeto de ampliar para até 48 horas a jornada semanal e estender o
limite diário para 12 horas. O alvo é, mais uma vez, os trabalhadores.
Um
sexto golpe guarda relação direta com a falta de compromisso social. Numa trama
urdida pelo governo golpista, busca-se aprovar a todo custo a PEC do teto de
gastos. Seu efeito será a redução dos investimentos (o governo chama de gastos)
em saúde, educação e demais políticas sociais.
Os
golpes contra a democracia não poupam sequer o Judiciário. Juízes e
procuradores se esmeram em selecionar investigados, acusar sem provas, iludir a
opinião pública com infográficos e prender ex-ministros para soltá-los horas
depois, produzindo um espetáculo com vistas às manchetes do dia seguinte.
O
golpe é parlamentar, jurídico, econômico e midiático. Para legitimar um golpe,
deflagram-se outros. A ordem é dilapidar direitos, privatizar serviços, impedir
manifestações, criminalizar a esquerda e inviabilizar politicamente o melhor
presidente que o Brasil já teve. Por tudo isso, é preciso continuar nas ruas:
denunciar o golpe e defender os direitos sociais e a democracia.
* Paulo Teixeira (PT/SP), 55, é deputado
federal e vice-presidente do PT. Raimundo Bonfim, 52, é coordenador da Central
de Movimentos Populares e da Frente Brasil Popular.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/paulo-teixeira-e-raimundo-bonfim-os-seis-golpes-dentro-do-golpe.html
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