O
drama barato de um governo ordinário não seria assunto se não nos afetasse
diretamente. Mas, desde que estamos submetidos a ele, não podemos deixar sua
lama passar em brancas nuvens.
Nenhuma
empresa empregaria um membro do governo Temer como office boy para fazer
pagamentos e saques em agências bancárias. No entanto, eles estão governando o
Brasil. Com destaque em seu ministério, está a sorumbática figura de José Serra
que, entre outras muitas façanhas, foi condenado a devolver três bilhões
(dinheiro público torrado para salvar bancos em dezembro de 1994) aos cofres
públicos, condenação que Gilmar Mendes arquivou em 2008. O MP recorreu e,
depois de quase uma década consumida, o STF reabriu agora (março de 2016) o
processo.
É
curioso pensar que, em contraste com isso, isto é, com esses três bilhões
dilapidados, a Justiça brasileira promove uma caçada sanguinária contra Lula
por um pedalinho. Pedalinhos e pedaladas, as duas armadas brandidas contra Lula
e Dilma. Eis, o retrato de um país de psicopatas.
Serra
é um exemplo da servidão voluntária ao grande capital que tomou o poder com o
governo Temer. Não se trata, porém, de uma modalidade normal de subserviência
mas de uma forma extrema de rebaixamento. São políticos que não vislumbram
nenhum futuro (que carreira política um Serra ou um Temer ainda poderiam
esperar do futuro?) e que sentem que estão diante da grande oportunidade. É
agora ou nunca. Para abrir todas as portas das negociatas, tem que contar com a
retaguarda segura, isto é, com as elites do dinheiro e com a mídia satisfeitas.
E
como satisfazê-las? Detonando toda a estrutura de garantias do trabalho,
implodindo os salários dos aposentados, criando dificuldades para os que
poderiam se aposentar, aumentando a duração da jornada de trabalho diária,
‘flexibilizando’ os direitos dos trabalhadores e aumentando o poder arbitrário
dos patrões. Claro que, além disso, irão também perseguir os movimentos sociais
e detonar as políticas públicas de alcance social.
Feito
isso, recebem carta branca para os projetos de saque, de queima de riquezas
nacionais, de privatização, venda de terras nacionais a estrangeiros,
legalização do jogo, etc. Primeiro, portanto, as elites querem o massacre do
mundo do trabalho e, em seguida, liberam a implementação das políticas
conduzidas por Moreira Franco, braço direito de Temer, que, segundo a Folha, o
próprio FHC dizia que não podia ter cargo que tivesse cofre.
Michel
Temer, segundo a revista Época, elevará em breve Moreira Franco à categoria de
Ministro de Estado. É preciso dar a ele um status compatível com suas
atribuições.
A
grande dificuldade desse governo é que ao estender as mãos contra os direitos
dos trabalhadores, atrai para si vaias ensurdecedoras como as da abertura das
Paraolimpíadas. E aí, sem ter segurança para atropelar as reações (dos
sindicatos, dos movimentos sociais, da opinião pública, e até da parte da
classe média que começa a levantar suspeitas contra ele), se vê obrigado a desmentir-se e a valer-se de
desculpas esfarrapadas.
Isso
acontece porque além de vil, submisso e subserviente, o governo Temer é o mais
fraco da história brasileira, não tem consistência interna, apoios efetivos e
sólidos, nada que lhe dê a mínima ossatura. E muitos são os sinais, na mídia e
entre as lideranças empresariais, de que as próprias elites, que procura adular
a todo custo, guarda profundo desprezo por ele.
A
ironia da história é que os protestos pró-impeachment, que levou multidões de
zumbis a se prosternarem diante do templo da FIESP, deu origem, como não podia
deixar de ser, a um governo de mortos vivos. E, a cada dia que passa, mais de
mortos do que vivos.
http://www.ocafezinho.com/2016/09/11/michel-temer-e-o-drama-barato-de-um-governo-ordinario/
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