Criador
das pautas-bombas que paralisaram as medidas econômicas de Dilma Rousseff
quando a base parlamentar da petista já se desfazia e “mentor” do impeachment
na Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teve o mandato cassado na noite
da segunda-feira 12 com 450 votos favoráveis e 10 votos contra. Houve 9
abstenções e 44 ausências.
Segundo
a Agência Brasil, “os dez deputados que votaram contra a cassação de Cunha
foram Carlos Marun (PMDB-MS), Paulo Pereira da Silva (SD-SP), Marco Feliciano
(PSC-SP), Carlos Andrade (PHS-RR), Jozi Araújo (PTN-AP), Júlia Marinho
(PSC-PA), Wellington (PR-PB), Arthur Lira (PP-AL), João Carlos Bacelar (PR-BA)
e Dâmina Pereira (PSL-MG)”.
Já
“os nove deputados que se abstiveram foram Laerte Bessa (PR-DF), Rôney Nemer
(PP-DF), Alfredo Kaefer (PSL-PR), Nelson Meurer (PP-PR), Alberto Filho
(PMDB-MA), André Moura (PSC-SE), Delegado Edson Moreira (PR-MG), Mauro Lopes
(PMDB-MG) e Saraiva Felipe (PMDB-MG)”.
Foi
um resultado muito diferente da noite do 17 de abril de 2016, quando, sob o
comando de Cunha, a Câmara autorizou instauração do processo de impeachment de
Dilma por 367 votos a 137 e sete abstenções.
O
deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) resumiu a noite: “Há alguns meses, Eduardo
Cunha estava na Rússia, junto com parlamentares aliados do PSDB, PPS, DEM e
PMDB, tramando o impeachment da presidente Dilma. Eu fui o primeiro a
enfrentá-lo nesta Casa, neste plenário, quando a grande maioria o apoiava.
Agora, vamos votar a sua cassação. Eu contei: só cinco apertaram a sua mão.
Todos o abandonaram. Eu espero que o senhor Eduardo Cunha cumpra, depois de
perder o mandato, o que prometeu: que iria derrubar dois presidentes e uma
centena de deputados. Eu espero que ele comece pelo Michel Temer”.
Cunha
estava de gravata amarela no plenário. Foi evitado pela maioria dos colegas.
Teve o apoio solitário de Carlos Marun (PMDB-MS). O único outro deputado a
falar em defesa dele foi Edson Moreira (PR-MG).
Morreu
atirando. Em seu discurso, disse: “Por mais que o PT brigue, grite, chie e
chore, esse criminoso Governo do qual vocês fazem parte foi embora. Graças à
atividade que foi feita por mim, quando aceitei a abertura do processo de
impeachment, e por esta Casa, quando o autorizou, afastando esse Governo
corrupto do PT, afastando essa Presidente inidônea, essa Presidente que
comandava o Governo de corrupção. Essa é que é a verdade. E esse processo de
impeachment é que está gerando tudo isso”. Chorou durante e no final de sua
fala.
Afastado
preventivamente pelo STF desde maio, Cunha foi cassado por mentir à CPI da
Petrobras, quando disse que não tinha contas no Exterior — o que foi provado
posteriormente com farta documentação.
Porém,
ele fez muito mais que isso. Enquanto exercia a presidência da Câmara, com
apoio de muitos que hoje o condenaram, Cunha perseguiu adversários políticos,
fez avançar uma agenda regressiva e catalisou as forças que finalmente
derrubaram Dilma Rousseff. O PT sustenta que a abertura do processo foi
vingança política depois que o partido foi chantageado mas se negou a apoiar
Cunha no Conselho de Ética.
Ele
foi eleito presidente da Câmara em fevereiro de 2015 com 267 votos, contra 136
de Arlindo Chinaglia (PT-SP), 100 de Júlio Delgado (PSB-MG) e 8 de Chico
Alencar (PSOL-RJ). Houve duas abstenções.
Cunha
foi o responsável pela guinada à direita do Centrão peemedebista. No exercício
do poder, posou exuberante com líderes dos movimentos de rua que faziam
campanha pela derrubada de Dilma, dentre os quais o hoje colunista da Folha Kim
Kataguiri e o líder do Revoltados Online, Marcello Reis. Na mesma ocasião,
recebeu o líder do PSDB Carlos Sampaio e o deputado Jair Bolsonaro. Uma faixa
dizia: “O PSDB saúda a Marcha pela Liberdade. Vocês são exemplos de cidadania e
esperança para um Brasil livre de corrupção”.
Agora,
as atenções se voltam para possível delação premiada do deputado cassado.
“Eduardo
Cunha mandou avisar a Michel Temer que, se não for salvo, leva com ele para o
fundo do poço 150 deputados federais, um senador e um ministro próximo ao
interino”, informou o Estadão em junho de 2016.
No
famoso diálogo gravado entre o hoje presidente do PMDB, Romero Jucá, e o
ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, Cunha e o golpista Michel Temer
aparecem várias vezes:
ROMERO JUCÁ – Eu ontem fui muito claro. […]
Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta
esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete,
isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula
entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá
algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma.
Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO – Agora, ele acordou a militância
do PT.
JUCÁ – Sim.
MACHADO – Aquele pessoal que resistiu
acordou e vai dar merda.
JUCÁ – Eu acho que…
MACHADO – Tem que ter um impeachment.
JUCÁ – Tem que ter impeachment. Não tem
saída.
MACHADO – E quem segurar, segura.
JUCÁ – Foi boa a conversa mas vamos ter
outras pela frente.
MACHADO – Acontece o seguinte,
objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo
após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ – Exatamente, e vai sobrar muito. O
Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO – Odebrecht vai fazer.
JUCÁ – Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO – Queiroz [Galvão] não sei se vai
fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado
porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar
vocês. E acha que eu sou o caminho.
[…]
JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado
como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra
[inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem
que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
[…]
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era
botar o Michel [Temer].
JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está
contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo
Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num
grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.
[…]
MACHADO – O Renan [Calheiros] é totalmente
‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na
hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele.
Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não
compreendeu isso não.
JUCÁ – Tem que ser um boi de piranha, pegar
um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
Não
é apenas o presidente do Senado, Renan Calheiros, que acredita que “Michel é
Eduardo Cunha”. O ex-ministro Ciro Gomes disse que ambos são íntimos em vários
“negócios”.
Por
outro lado, analistas dos bastidores do Congresso dizem que a cassação de Cunha
era parte essencial do “acordão nacional” a que Jucá e Machado se referem na
conversa reproduzida acima. Cunha pode ser visto, inclusive, como o “boi de
piranha” descrito por Jucá, que permitiria a Temer “chegar do outro lado da
margem”. Isso, se ele não abrir a boca.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/chantagista-eduardo-cunha.html
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