Do
site do detrito sólido de maré baixa:
VEJA
teve acesso a um anexo da delação premiada mais esperada do escândalo do petrolão.
A Odebrecht mobilizou mais de uma centena de advogados para assessorar a
delação de seu presidente, Marcelo Odebrecht, e de cerca de cinquenta
executivos da empresa. No trecho a que VEJA teve acesso consta a informação de
que em maio de 2014 houve um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do
vice-presidente da República. Nele, estavam o próprio vice Michel Temer e o
então deputado Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil. Do lado da
empreiteira, Marcelo Odebrecht. Segundo os termos do anexo, Temer pediu “apoio
financeiro” ao empresário. Marcelo Odebrecht, um campeão em contratos com o
governo federal e um financiador generoso de políticos e campanhas eleitorais,
prometeu colaborar. Afinal, estava diante do vice-presidente da República e
comandante em chefe do PMDB, o maior partido do país, que controlou desde a
redemocratização cargos estratégicos da máquina pública, como diretorias da
Petrobras e de estatais do setor elétrico.
A
Lava-Jato já sabe que empreiteiras repassaram propinas a partidos na forma de
doações eleitorais. Ou seja: que usaram a Justiça Eleitoral para lavar dinheiro
sujo. No caso da negociação no Jaburu, o anexo da empreiteira promete provar,
caso a delação seja homologada, que se deu uma operação distinta: o pagamento
do “apoio financeiro” aconteceu em dinheiro vivo, entre agosto e setembro de
2014. A Odebrecht repassou 10 milhões de reais ao PMDB. Do total, 4 milhões
tiveram como destinatário final o próprio Eliseu Padilha. Já os 6 milhões de
reais restantes foram endereçados a Paulo Skaf, presidente da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Skaf tem boa relação com Marcelo
Odebrecht e é apontado como o mentor do jantar entre o empreiteiro e os
peemedebistas, do qual não participou. Em 2014, ele disputou o governo de São
Paulo pelo PMDB graças ao apoio de Temer. O repasse dos 10 milhões de reais em
dinheiro vivo está, segundo o anexo, registrado na contabilidade do setor de
operações estruturadas da Odebrecht, também conhecido como “departamento da propina”.
Em
nota, o presidente interino confirmou o jantar e afirmou que ele e o empresário
conversaram “sobre auxílio financeiro da construtora Odebrecht a campanhas
eleitorais do PMDB, em absoluto acordo com a legislação eleitoral em vigor e
conforme foi depois declarado ao Tribunal Superior Eleitoral”. Segundo dados do
TSE, a Odebrecht repassou 11,3 milhões de reais à direção nacional peemedebista
em 2014. Seria a mesma doação? Para evitar fraudes, a Justiça Eleitoral exigia
que os recursos doados legalmente pelas empresas fossem depositados na conta do
partido. Na delação da empreiteira, os 10 milhões saíram em dinheiro vivo e
foram contabilizados em seu “caixa paralelo”.
Temer
não se foi ele quem pediu a ajuda financeira, conforme relatado à força-tarefa
da Lava-Jato, ou se a iniciativa partiu de Marcelo Odebrecht. Consultado por
VEJA, Eliseu Padilha enviou uma nota. Diz: “Lembro que Marcelo Odebrecht ficou
de analisar a possibilidade de aportar contribuições de campanha para a conta
do PMDB, então presidido pelo presidente Michel Temer”. Padilha negou que tenha
recebido os recursos da Odebrecht. Sua assessoria escreveu: “Como Eliseu
Padilha não foi candidato, não pediu nem recebeu ajuda financeira de quem quer
que seja para sua eleição”. Paulo Skaf também declarou que a empreiteira não
doou para a sua campanha e que recebeu apenas 200 000 reais da Braskem,
petroquímica controlada pela Odebrecht. A empreiteira não comenta o assunto sob
a alegação de que está negociando uma delação premiada e tem o compromisso de
manter a confidencialidade.
Do
Conversa Afiada
http://www.conversaafiada.com.br/politica/veja-e-odebrecht-derrubam-temer
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