O
editorial de hoje do Globo (A simbologia de dois presidentes investigados), que
trata da abertura de inquérito contra Dilma, Lula e outras pessoas por
tentativa de obstrução da Justiça, é o exemplo perfeito de como funciona a
articulação entre mídia, Judiciário e MPF para criar o clima propício ao golpe
de Estado que será chancelado pelo Senado nos próximos dias.
Façamos
uma pequena recapitulação dos fatos para demonstrar como se dá essa
articulação, e como ela é essencial para que a direita alcance seus objetivos
antidemocráticos.
Todos
os vazamentos seletivos e ilegais da Lava Jato para a mídia detonar os inimigos
políticos com manchetes garrafais durante a campanha de 2014 não foram
suficientes para evitar a derrota de Aécio.
No
momento em que foi confirmada a derrota do candidato orgânico da direita já
começaram os preparativos para o golpe - nos comentários sobre o resultado, no
dia do segundo turno, o programa da Veja em vídeo já falava em impeachment.
A
estratégia continuou a mesma, mas com objetivo diferente: os vazamentos
seletivos e as manchetes enviesadas visavam não mais mudar os rumos da eleição,
mas convocar o exército de manipulados às ruas para que o discurso de que
"a voz do povo deve ser ouvida" pudesse ser usado pelos golpistas do
parlamento.
Quando
Dilma nomeou Lula para a chefia da Casa Civil os conspiradores sentiram que o
ex-presidente poderia mudar o jogo em favor do governo e não tardaram a agir.
Moro
divulgou, no mesmo dia da nomeação, áudios oriundos de grampo no celular de
Lula.
A
Globo pegou um desses áudios, no qual Lula conversava com Dilma sobre a
assinatura do termo de posse, e deu a interpretação forçadíssima de que os dois
estariam com pressa para que Lula pudesse fugir de uma eventual prisão ordenada
por Moro. Com direito a caras e bocas dos apresentadores do Jornal Nacional
interpretando os diálogos.
A
convulsão social almejada e alcançada com a divulgação dos áudios deu o amparo
necessário para que Gilmar Mendes concedesse liminar suspendendo a nomeação de
Lula.
De
lá para cá o golpe foi consolidado e só um milagre impede que ele seja
consumado.
Mas
a história do áudio continua rendendo frutos ao consórcio midiático-judicial.
Rodrigo
Janot manteve o pedido de abertura de inquérito para investigar a suposta
tentativa de obstrução das investigações da Lava Jato, mesmo após a anulação
dos áudios por Teori Zavascki.
Aqui
cabe um parêntese sobre a questão da obstrução em si. Jânio de Freitas foi
cirúrgico na Folha, hoje:
Dilma
e Lula não fizeram e não tentaram fazer obstrução à Justiça, nem sequer à Lava
Jato. Obstruir, aplicada ao caso, seria obstar impedimentos, totais ou
parciais, efêmeros ou definitivos, à efetivação de procedimentos judiciais. Mas
ministros não desfrutam de imunidade. Por lei, bem entendido, que não faltam
outros caminhos –estes, fora do alcance de Lula, Dilma e qualquer petista.
Se
nomeado ministro, inquéritos e possíveis julgamentos de Lula não seriam
evitados nem sustados em seu decorrer. Apenas subiriam de instância no
Judiciário, passando a tramitar no Supremo Tribunal Federal. Não mais na mesa,
nas gavetas e nas celas do juiz Sergio Moro em sua primeira instância.
Mesmo
sendo absurda sob qualquer aspecto a hipótese de que Lula e Dilma atuaram para
obstruir a Lava Jato, Teori Zavascki acatou o pedido de Janot na última
terça-feira, convenientemente garantindo as manchetes do dia contra o PT, no
momento em que se aproxima a hora final do julgamento de Dilma pelo Senado.
E
então chegamos ao editorial de hoje do Globo.
Com
a abertura do inquérito inicia-se a fase da coleta de provas, para que o
julgador posteriormente pese-as e tome sua decisão.
Mas
quando a coisa envolve Lula, Dilma ou o PT o editorialista dos Marinho sabe
muito bem o que fazer: ignorar essa história de provas e declarar a culpa dos
malditos petralhas inapelavelmente.
O
subtítulo do editorial é essa pérola: "Dilma e Lula passam a ser suspeitos
de tramoias contra a Justiça, em inquérito no STF, e patrocinam algo de que não
se tem notícia na República".
Outro
trecho: "Uma trama de alto escalão que perpassa os Três Poderes. Exemplo
bem lapidado de como, nestes últimos anos, além de se assaltar empresas
públicas como a Petrobras, manobrava-se sem limites para intervir no
Judiciário, a fim de soltar empreiteiros companheiros detidos em
Curitiba."
O
julgamento no tribunal midiático já está concluído. Sem direito à apelação.
E
o público, bombardeado por anos com a narrativa de que o PT
"institucionalizou a corrupção" e de que Lula é um bandido, aceita
sem questionamentos.
A
sequência e o entrosamento são claros: Moro começa a jogada vazando os áudios
para a Globo; a Globo recebe o passe, interpreta à sua maneira os áudios,
encena-os em horário nobre, cria a convulsão social desejada e passa a bola
para Gilmar Mendes; o tucano do STF dá sequência à tabelinha impedindo a posse
de Lula; Janot pega a bola e insiste na abertura de inquérito; Teori não se
opõe e a Globo finaliza a jogada decretando a culpa dos petistas em editorial.
Muitos
dos que compram essa narrativa na verdade estão também alinhados
ideologicamente à Globo e às castas burocráticas do Judiciário e do MPF.
Mas
muitos realmente acreditam na narrativa midiática. E a participação destes,
crentes de que estavam combatendo a corrupção ao ir para a rua protestar contra
o governo, foi essencial para o sucesso do golpe.
Um
dia eles hão de saber que os paladinos da moral da mídia, da Justiça e do MPF
na verdade atuaram em conjunto para corromper o sistema de justiça e atingir
seu objetivo político: colocar de joelhos uma das maiores democracias do mundo
ocidental.
http://www.ocafezinho.com/2016/08/18/como-funciona-o-consorcio-midiatico-judicial-que-esta-enterrando-a-democracia-brasileira/

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