Uma
hipótese, um tanto óbvia, veio já no ataque inicial do ministro Gilmar Mendes
ao "vazamento", maldoso e injusto, de referência na Lava Jato ao
ministro Dias Toffoli, do Supremo. "É necessário investigar os
investigadores" da Lava Jato –repetiu Mendes essa frase sua do ano
passado, agora completando a observação de que procuradores da Lava Jato estão
em choque com Toffoli, por eles atacado até em artigo. Entre hipóteses
possíveis, porém, viceja em círculo judicial aparentemente estreito uma menos
fácil e mais excitante que a de Mendes.
A
delação afinal aceita por Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, poderia ser a
mais promissora, mas já as discussões iniciais mostraram-se tão problemáticas
quanto as de Marcelo Odebrecht. Muito afável, prestativo e de acesso simples,
Pinheiro teria com que inundar a Lava Jato de informações e esclarecimentos. E,
esperavam os procuradores, obsessão acima de todas, o que buscam em vão sobre a
propriedade do sítio e do apartamento atribuída a Lula. Léo Pinheiro foi
decepcionante para a Lava Jato nas preliminares sobre a futura delação: não
admitiu que o sítio e o apartamento sejam de Lula.
Era
muito fácil a previsão de que implicar um ministro do Supremo, em mais um
"vazamento", daria oportunidade a sustar o acordo de delação premiada
com Léo Pinheiro. Além de não dizer o que desejavam, o possível delator e seu
manancial de informações por certo desvendariam pessoas e grupos não incluíveis
na mira acusatória da Lava Jato. Criar o caso e, suspenso o acordo de delação,
deixar Léo Pinheiro calado: está feito.
A
hipótese de Gilmar e a outra não se excluem, talvez se completem. Em ambas,
aliás, confirma-se que Léo Pinheiro paga pelo que não disse e não fez. Com toda
a certeza, não é o autor do "vazamento", inexistindo qualquer motivo
para a punição que o procurador-geral Rodrigo Janot lhe aplicou, e só a ele,
cassando-lhe o direito de buscar o mesmo benefício dado a tantos delatores.
Se
o "vazamento" é algo tão grave, definido como crime por Gilmar Mendes
e motivador do ato extremado de Janot, à pergunta "a quem interessa?"
emenda-se outra: por que tanto consentimento, por tanto tempo, para atos agora
qualificados de "excessivos", "inaceitáveis" e "abusos
de autoridade"?
O
Conselho Nacional do Ministério Público manteve-se impassível diante da
torrente de "vazamentos" que os tornou costume característico da Lava
Jato. O Conselho Nacional de Justiça teve a mesma indiferença, em relação ao
chefe da Lava Jato, juiz Sérgio Moro. O procurador-geral chegou a emitir uma
nota com advertências sobre os excessos, mas recuou na aplicação dos seus
conceitos à prática. Esses comportamentos constituíram uma carta branca para a
Lava Jato e sua prepotência.
Até
um leigo, como sou, anteviu que os excessos de autoritarismo da Lava Jato, uma
vez consentidos, cresceriam em número e em grau de gravidade. E viriam a ser um
problema institucional. São.
Léo
Pinheiro de nada acusou Dias Toffoli, nem insinuou. Mas, se a substância não
fere o Supremo, o "vazamento" o atinge pela intenção inequívoca de
sua forma maldosa, desonesta mesmo. Dizem que vão investigar a procedência do
"vazamento" ou "vazamentos". Quem a conhece são
jornalistas. A Polícia Federal já pretendeu exigir de jornalistas a indicação
de suas fontes. À Lava Jato só falta algo nessa linha, para um aparente
atestado de bom comportamento contra a acusação de "abuso de
autoridade". Iniciada por indignado Gilmar Mendes, aquele que reteve por
ano e meio uma decisão importante do Supremo, enquanto expunha em público o
teor do voto engavetado. Um abuso de autoridade escancarado.
http://caviaresquerda.blogspot.com.br/2016/08/janio-de-freitas-lava-jato-virou.html
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