Ao
eleger os representantes políticos, nós o povo, eleitores, conscientes ou não
de nossos votos, fazemos uma dupla aposta. Na verdade, supomos que funcione o
sistema político instituído como também esperamos que os candidatos eleitos
sejam, no mínimo, honestos, capazes e combativos.
Um
cidadão comum que procura viver nesse mundo, conturbado por todos os lados,
como de praxe, precisa trabalhar e ganhar sustento para si e/ou sua família.
Seus deveres humanos, sociais e políticos já lhe cobram desde que começa a se
entender como gente. Adulto digno e responsável.
Assim,
ou quase isso, se espera de todos nós, um país que nos acolha como habitantes e
cidadãos para que o construamos, cada um a sua maneira, e o levemos a ficar
suficientemente saudável e acolhedor. Pelo menos no sentido de que nossos
direitos básicos sejam atendidos.
A
história humana de milênios nos mostra, no entanto, a dificuldade de que esse
modelo ideal prevaleça. Embora tão simples, singelamente fácil de entender e
cumprir, o dever de casa nunca é feito do jeito que é minimamente necessário.
Fiquemos
na época contemporânea. A globalização trouxe a padronização da produção, dos
serviços e dos comportamentos exigidos dos trabalhadores e consumidores diante
do mercado. O que era nacional passou a ser também mundial, pelo menos a parte
dos grandes capitais, a qual, ao fim e ao cabo, representa o maior quinhão de
cada país.
Mas
como as relações econômicas transformam as relações sociais e humanas, no
frigir dos ovos podemos afirmar com alto grau de certeza que vivemos num
mercado mundializado. Decisões econômicas no estrangeiro afetam os negócios
nacionais. Turbulências sociais igualmente seguem o mesmo rastro.
Ao
cidadão hodierno, portanto, seus deveres humanos, sociais e políticos se
transfiguram no modus operandi da globalização. A padronização econômica exige
comportamentos previsíveis de todos nós em quaisquer regiões e países. Caso
contrário, nossas terras habitáveis perdem a vez e a voz. Ficam de lado, sem
expressão, protagonismo, lugar.
Mas
para sermos expressivos, protagonistas e soberanos nos cabe mostrar as
credenciais. Entre elas, uma economia forte e diversificada, uma sociedade
democrática e educada, uma renda nacional bem distribuída, uma representação
política digna, saudável e confiável, uma justiça realmente justa e legal, uma
mídia informativa, isenta e bem informada.
Não
é fácil, nem imediato, mas possível e defensável. Pode até ser invisível aos
olhos, como diria Saint-Exupéry, mas não às contas, isto é, quanto se distribui
entre educação, saúde, saneamento, preservação ambiental, soberania
tecnológica, entre outros. A cara do orçamento de um país pode indicar para
onde ele segue na rota do desenvolvimento humano, social e econômico. O mais é
conversa para boi dormir.
Pois
o desgoverno interino atual do Brasil retirou recursos consideráveis da área
social, além de criar um déficit colossal nas contas públicas por medidas
inoportunas e regressivas. Os mais desprotegidos serão castigados enquanto a
maior parte de nós pagará pelo buraco fiscal através de aumento de tributos,
redução da renda e que tais. Os ricos, mais uma vez, continuarão privilegiados.
Ao
tempo em que é vendida uma parte significativa do Pré-Sal, rompendo a soberania
nacional na produção do petróleo, além de ser enfraquecida a Petrobras,
destruída a participação brasileira no Mercosul e alinhado indiscriminadamente
com os polos econômicos hegemônicos e opressores mundiais.
O
que não é novidade, pois vários outros analistas já discorreram sobre esses
desmandos e absurdos. O ponto a ser ressaltado aqui é outro. Onde é que fica o
mínimo de senso crítico exigido de pessoas ditas normais e civilizadas? Como é
que uma turma tapa-buraco no governo, buraco criado pelos próprios, desfaz tudo
o que vinha sendo feito, humanamente respeitável, socialmente aceitável e
economicamente razoável?
A
nossa república das bananas está sendo desconstruída econômica, política e
socialmente por irresponsáveis, oportunistas e golpistas. A podridão se alastra
pelo judiciário onde parte dele se mostra conivente, parcial e injusta. Sem
falar na mídia que rasteja pelos dutos da mentira, falsidade e desinformação.
Esta
página negra de nossa história, como diz a canção popular, mostra que votos não
valem nada ou valem somente para legitimar uma representação
político-partidária que manda e desmanda apoiada em tramas, conspirações e
golpes.
O
Parlamento caiu ao menor nível de credibilidade, o comando improvisado do
Executivo uma farsa, o Judiciário olhando a banda passar, a mídia escolhendo as
melhores notícias para enganar o povo, este, coitado, mais uma vez, sem meios
de refazer tudo isso, a não ser protestar nas ruas.
Sim,
protestar nas ruas é hoje imperativo, mais do que nunca. Mas também nas
fábricas, nas escolas, nas repartições públicas, nos foros, em todos os locais
onde se possa mostrar a indignação, o inconformismo e a impaciência com o
estado destruído de coisas.
Que
se restaure a dignidade, o respeito ao próximo e às urnas, a cidadania plena, a
confiança nas instituições! Enquanto houver a desobediência do estado e do
governo em relação ao povo, que este faça o mesmo e pratique então a
desobediência civil. O pior do erro é se locupletar dele e continuar
desvirtuando a boa fé do outro.
Nesses
dias volta ao Senado a encenação da pantomina do impedimento da Presidenta. Que
os seus eleitores e mais outros indignados se juntem para lutar pela
recuperação do direito e da justiça já que os encarregados não estão cumprindo
seus deveres à altura. É hora de retomar o sentido da democracia tão ultrajada
e desonrada nesse país.
Também
as Olimpíadas é um bom lugar e veículo para se movimentar agora contra os
desmandos de toda ordem que se alastram Brasil afora. Ou retomamos as rédeas da normalidade democrática ou a
anormalidade democrática vinga e toma conta das rédeas da nação. Fora
corruptos, golpistas, hipócritas, o país é maior que vocês!
http://www.ocafezinho.com/2016/08/04/ha-algo-podre-na-republica-das-bananas/
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