Todo
o trabalho de uma escola deve estar voltado para a realidade que a cerca. É
para formar jovens com possibilidade de olhar para o mundo e se desafiar a
torná-lo um lugar melhor através do seu trabalho e dos seus conhecimentos. Para
que isso aconteça, não podemos confundir o ato de ensinar com a simples ação de
transmitir conhecimento. O ser humano não é um robô. Apenas na reflexão crítica
sobre a prática poderemos melhorar o mundo, torná-lo mais justo e mais
democrático. Esse é o sentido de uma educação libertadora.
Mas,
parece que o governo golpista de Michel Temer e seus aliados não concordam com
essa visão. Não concordam que a escola precisa ser um espaço democrático, não
concordam com a livre organização de todos os setores que compõem a comunidade
escolar. Hoje, se debate no Congresso Nacional um perigoso projeto intitulado
“Escola Sem Partido”, que recebeu recentemente a simpatia do governo ilegítimo
e do seu Ministério da Educação. Ao invés de defender um sistema de ensino
livre e crítico, trata-se, na verdade, do contrário. É uma iniciativa de
censura e perseguição à liberdade de expressão dentro do ambiente escolar,
amplamente garantida pela Constituição Brasileira após o fim da ditadura
militar.
Paulo
Freire (um dos estudiosos brasileiros mais admirados e traduzidos do mundo) dizia
que “constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa
incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente
a de nos adaptar a ela”. É este o objetivo que a educação deve ter: gerar novos
saberes e não permitir que nos adaptemos às injustiças ou que as vejamos como
coisas naturais. Mas o ministro de educação prefere receber as propostas de
Alexandre Frota do que ler Paulo Freire...
Os
parlamentares que defendem o projeto “Escola Sem Partido” são geralmente pessoas
não ligadas à formação ou à luta pela educação, mas às bancadas mais
conservadoras do Congresso Nacional. O que eles querem, na verdade, é
substituir a liberdade de diálogo e de debate de ideias na sala de aula por uma
ideologia conservadora. Isso mesmo: o projeto “Escola sem partido” é
extremamente ideológico! Nele, não existe imparcialidade nenhuma! É a ideologia
dos que querem uma população alienada, dos que não querem que a sociedade mude,
mas que continue desigual e injusta.
A
“Escola Sem Partido” também tem o objetivo de perseguir os grêmios e entidades
estudantis, criminalizando e desrespeitando o corajoso movimento estudantil
secundarista que recentemente tem ocupado escolas de todo o Brasil e vem
ganhando a opinião pública sobre o real problema da escola, o sucateamento e o
descaso em diversos lugares.
O
projeto quer impedir de forma ultraconservadora o debate plural sobre temas
cruciais como a história, a política, os direitos humanos e o combate às
opressões, buscando impedir o exercício de uma pedagogia que possibilite a
autonomia dos estudantes e a transformação da sociedade. A verdade, é que não
há um único fato histórico que não tenha conteúdo político. Até mesmo a decisão
sobre o que vamos ou não estudar na escola é uma decisão política. É
necessário, portanto, que se permita o debate, que se apresente a diversidade
dos pontos de vista. A “Escola Sem Partido” é a escola de apenas um partido, de
apenas um lado (o mais conservador de todos), buscando enterrar a diversidade
de pensamento natural na busca de conhecimentos e transformando o processo
educacional em instrumento de opressão e de censura.
Aqueles
que defendem a “Escola Sem Partido” talvez não conheçam a força do movimento
estudantil secundarista. Os estudantes têm opinião e defendem, acima de tudo, a
democracia e a liberdade. Por isso seguiremos nas escolas, nas redes e nas ruas
denunciando o caráter autoritário deste projeto e lutando pela escola dos
nossos sonhos.
Não
à “Escola Sem Partido”! Sim à escola democrática!
* Camila Lanes é presidenta da União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas (UBES).
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/07/nao-escola-sem-partido.html
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