É
impressionante como as homepages dos portais de notícias trazem cinco, dez,
vinte chamadas relativas à brutalidade.
Terror
na França, pena de morte na Turquia, assassinatos raciais nos EUA, agorinha um
homem com um machado fazendo 21 feridos em um trem na Alemanha…
O
“Estado Islâmico” pode ser um horror, uma aberração fanática, mas a onda de
ódio que se espalha sobre o mundo – aqui, inclusive – vai muito além de uma
mera manifestação de um grupo de fundamentalistas.
Porque
o fundamentalismo não é só islâmico e está por toda a parte na era da
intolerância que se construiu.
Ontem,
o El País, publicou uma reportagem sobre a intolerância na Polônia, uma país
onde nada menos que 92% da população declara-se católica:
Você
pode começar o dia na Polônia sendo um patriota ou um traidor de acordo com o
seu café da manhã e pelo seu meio de transporte ao sair de casa. Se comer salsichas
e pegar o carro, tudo bem. Se optar pelos cereais e a bicicleta, péssimo.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Witold Waszczykowski, sua missão é
acabar com “a Europa apodrecida de vegetarianos e ciclistas”. Acrescentou a
mistura de raças e culturas e as energias limpas. Preservar a identidade
nacional polonesa, entendida como os valores da tradição cristã, é uma
prioridade do Executivo ultraconservador do Lei e Justiça (PiS), presidido por
Beata Szydlo e dirigido politicamente por Jaroslaw Kaczynski, o líder do
partido. Trata-se do primeiro partido da história moderna da Polônia a
conquistar a maioria absoluta, nas últimas eleições de outubro. Nessa cruzada é
essencial controlar a imprensa para separar os poloneses “bons” dos “maus”.
E
nós, aqui?
Será
que não estamos assistindo “cruzadas” entre brasileiros “bons” e “maus”?
Não
é este o discurso que se ensaia há dois anos ou mais?
O
maniqueísmo é a pedra angular do fascismo e da brutalidade.
Tudo
o que é diferente de mim – ou do que me fazem acreditar que sou – deve ser
exterminado.
Este
quase pré-histórico sentimento tribal vai brotando por toda a parte,
transformando a política, que é a arte de conviver, em algo sórdido.
A
sociedade passa a ser vista como “confessional”, onde a adesão a valores
inquestionáveis determina o “direito” de viver e se expressar.
Não
é preciso mais que uma visita aos comentários nos portais da grande imprensa
para se defrontar com o “morram!”.
Vai
ficando como verdade a profecia de Joseph Pulitzer, sempre citada pelo Nassif,
de que “com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta
formará um público tão vil como ela mesma”.
Se
as forças do fascismo fossem apenas um Bolsonaro, ficariam contidas nos
patamares da sociopatia.
O
problema é quanto e quando elas servem aos interesses da manutenção do
status-quo.
A
cruzada nacional pela moralidade está aí, vitoriosa sobre as ruínas de um país
paralisado, representada por homens das velhas elites parlamentares, corruptos
como sempre e poderosos como não se via há 15 anos.
A
primeira etapa do neoliberalismo quis levar-nos à era do “pensamento único”.
Agora,
leva-nos à era do ódio a tudo que represente a velha máxima da Revolução
Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
Dela,
só querem mesmo a guilhotina.
http://www.tijolaco.com.br/blog/onda-mundial-do-odio/
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