“A prática do golpe de
Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas.
Após Honduras e Paraguai, foi a vez do Brasil”. O texto assinado por um grupo
de intelectuais franceses diz que Dilma está sendo deposta por políticos
diretamente ligados aos escândalos de corrupção da Lava Jato e que a direita
brasileira está querendo implantar uma agenda conservadora e neoliberal,
ameaçando os ganhos sociais recentes no continente
Um grupo de intelectuais
franceses escreveu uma carta de apoio aos movimentos sociais e contra o golpe
de Estado constitucional que está em curso no Brasil. O documento diz que o
momento político atual é de extrema gravidade e que Dilma está sendo deposta
por políticos diretamente ligados aos escândalos de corrupção da Lava Jato e
que há um movimento comprometido em instalar uma agenda de extrema
radicalização para “erradicar” o Partido dos Trabalhadores.
Muitos dos intelectuais que
assinaram a carta de repúdio são especialistas em estudos sobre a América
Latina. Em um dos trechos do documento eles citam que “a prática do golpe de
Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas.
Após Honduras e Paraguai, foi a vez do Brasil.”
“Essas novas formas de golpe
de Estado sem o uso de armas se apoiam sobre uma classe política conservadora e
neoliberal. Apesar dos ganhos sociais obtidos nos anos 2000 na América Latina,
a direita e a extrema direita continuam sendo forças políticas poderosas”, diz
o texto.
Leia a carta na íntegra:
Contra o golpe de Estado
constitucional, nós afirmamos o nosso apoio e a nossa solidariedade com a
democracia e com os movimentos sociais brasileiros
Os movimentos sociais
brasileiros estão sendo diretamente atacados. Eles estão sujeitos a uma
ofensiva política de grande amplitude que leva o Brasil a um extenso período de
regressão democrática. Desde o início de maio, Dilma Rousseff, presidente
eleita com 54 milhões de votos, foi afastada do poder pelas duas câmaras do
Congresso Nacional. Parlamentares, deputados e senadores amplamente envolvidos
em casos de corrupção, instauraram um processo de impeachment contra a
presidente, acusando-a de irregularidades contábeis para camuflar o déficit nas
contas públicas. Essa prática, rotineira de todos os governos brasileiros, não
constitui nenhum dos crimes de responsabilidade previstos pela Constituição
brasileira.
É por esse motivo que os
movimentos sociais, os sindicatos e todas as forças progressistas do país
caracterizam a destituição de Dilma Rousseff como golpe de Estado
institucional.
A Operação Lava Jato,
escândalo de corrupção ligado à empresa nacional de petróleo, Petrobras,
envolvendo políticos brasileiros e construtoras no financiamento de campanhas
eleitorais, indignou, merecidamente, o povo brasileiro. Todos os partidos
políticos estavam envolvidos em tal operação, e os deputados de direita que
lideraram a campanha contra a presidente estão dentre os mais comprometidos
nesse escândalo. Se apoiando nas mobilizações populares, a direita avaliou que
tinha chegado o momento de iniciar uma grande ofensiva para eliminar o Partido
dos Trabalhadores (PT), cujas vitórias eleitorais eles nunca aceitaram. O
processo de impeachment contra Dilma Rousseff contou com o apoio de poderosas
igrejas evangélicas, que possuem grande influência dentro do Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), assim como dentro de diversos outros
partidos de direita menores, que juntos possuem a maioria em ambas as câmaras
do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal).
A prática do golpe de Estado
legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Após
Honduras e Paraguai, foi a vez do Brasil. Essas novas formas de golpe de Estado
sem o uso de armas se apoiam sobre uma classe política conservadora e
neoliberal. Apesar dos ganhos sociais obtidos nos anos 2000 na América Latina,
a direita e a extrema direita continuam sendo forças políticas poderosas,
capazes de mobilizar grandes grupos através do apoio dos meios de comunicação
dominantes, que por sua vez são completamente controlados pelos conglomerados
industriais e pelas oligarquias nacionais. Alguns chegam a pedir a abolição do
programa social Bolsa Família e das medidas implementadas pelo PT para reduzir
as desigualdades.
O atual presidente interino,
Michel Temer (líder do PMDB), já formou seu governo, composto unicamente por
homens brancos, ricos e de meia-idade. Logo em seus primeiros dias, o governo
de Temer aboliu o Ministério da Cultura e o Ministério das Mulheres, da
Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, e anunciou uma redução significativa
nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS), equivalente à Seguridade Social na
França.
A direita brasileira está
comprometida com uma agenda de extrema radicalização. Ela fala sobre a
necessidade de “erradicar” o PT e, especialmente, os movimentos sociais que o
apoiaram, tais como os sindicatos de trabalhadores e o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST). Mesmo que muitos deles critiquem a política econômica,
social e ecológica conduzida pelo governo do PT, os movimentos sociais se opõem
ao que é de fato um golpe de Estado constitucional. Sobretudo porque o eventual
retorno da direita ao poder pode significar uma grande ofensiva contra as
conquistas sociais, e provavelmente até mesmo a criminalização das dissidências
e das ações sociais, práticas que eram a norma antes da eleição de Lula em
2002.
Em apoio à democracia
brasileira, afirmamos junto aos movimentos sociais brasileiros:
“NÃO AO GOLPE, FORA TEMER!”
Christophe Aguiton, Attac
France
Claire Angelini, artiste et
cinéaste
Christian Azaïs, LISE – CNRS
/ CNAM
Geneviève Azam, économiste,
membre du conseil scientifique d’Attac
Luc Boltanski, sociologue,
directeur d’études à EHESS
Pierre Beaudet, Université
d’Ottawa
Susana Bleil, sociologue,
maître de conférence à l’université du Havre
Stella Bierrenbach, artiste
Erika Campelo, Autres
Brésils
Mathias Cassel aka Rockin’
Squat, chanteur
Bernard Cassen, président
d’honneur d’Attac, secrétaire général de Mémoire des luttes
Henryane de Chaponay, CEDAL
Jean-François Claverie,
Observatoire des Changements en Amérique Latine
Thomas Coutrot, économiste,
membre du conseil scientifique d’Attac
Mazé Torquato Chotil,
chercheuse et écrivaine
Dr Fabien Cohen, chirurgien
dentiste de santé publique, secrétaire général de France Amérique Latine
Bernard Dreano, Assemblée
européenne des citoyens
Jean-Pierre Duret,
réalisateur
Marilza de Melo Foucher- docteur
en Économie, journaliste et blogueuse
Afrânio Raul Garcia Jr.,
antropologue, CESSP/EHESS
Susan George, présidente du
Transnational Institute
François Gèze, éditions La
Découverte
Franck Gaudichaud, Président
de France Amérique Latine, universitaire
Jean-Marie Harribey,
économiste, Université de Bordeaux.
Jean-Jacques Kourliandsky,
chercheur à Institut de Relations Internationales et Stratégiques (IRIS-Paris)
Kamal Lahbib, Forum des
alternatives Maroc
Jean-Louis Laville,
sociologue
Frédéric Lebaron, sociologue,
professeur à l’Université de Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines
Gustave Massiah,
Cedetim/Ipam, membre du Conseil international du Forum social mondial
Gilles Maréchal, Pacé,
économiste, consultant
Gérard Mauger, directeur de
recherche émérite CNRS
Patrice Pinell, directeur de
recherche, CESSP
Louis Pinto, sociologue
Ignacio Ramonet, journaliste
Le Monde Diplomatique
Messaoud Romdhani, Forum
Tunisien pour les Droits Économiques et Sociaux (FTDES)
Pierre Salama, économiste,
professeur émérite université Paris XIII
Andrea Santana, réalisatrice
Alexis Saludjian, professeur
IE- UFRJ
Glauber Aquiles Sezerino,
sociologue, Autres Brésils
Christophe Ventura,
enseignant à l’Institut d’études européennes de Paris 8, Mémoire des luttes
Patrick Viveret, philosophe,
citoyen impliqué
Freddy Vitorino, producteur
Eric Toussaint, CADTM
Célina Whitaker, Collectif
Richesses
http://www.revistaforum.com.br/2016/06/06/intelectuais-franceses-condenam-o-golpe-no-brasil-leia-a-carta/
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