Invencibilidade
moral
Cara
Dilma:
O
que mais me impressiona no drama que você está enfrentando é sua força moral,
sua invencibilidade espiritual.
Montaigne
escreveu que o real teste da estatura de alguém é sua atitude diante da morte.
Sócrates tomou a cicuta consolando seus discípulos. Sêneca cortou os pulsos, a
mando de Nero, consolando também seus discípulos.
Força
na adversidade. Quantos de nós temos isso?
Não
deram a você cicuta e nem uma lâmina para se sangrar até a morte, mas não foi
muito diferente disso quando se pensa no universo da política.
E
você reagiu com bravura extraordinária. Seus algozes certamente imaginavam que
você iria se vergar para facilitar seu trabalho sujo, mesquinho, indecente.
Isso jamais aconteceu.
Percebe-se,
agora, como foram duros seus breves dias no segundo mandato. A seu lado, um
traidor que tramava enquanto produzia mesóclises ancestrais.
Pouco
adiante, no Congresso, dois tipos abomináveis. Um deles, Eduardo Cunha, fazendo
seu jogo criminoso para derrubá-la enquanto ganhava dinheiro imundo.
Outro,
Aécio Neves, um playboy inútil e corrupto, se comportava como um perdedor
desprezível, pusilânime, destituído de caráter, honradez e coragem para lidar
com a derrota.
Por
cima de tudo, pairando como um corvo sobre a democracia e sobre o país, a mídia
plutocrata. Os Marinhos, os Frias, os Civitas — os coroneis da imprensa
massacraram você desde que anunciada sua vitória para um segundo mandato.
Jamais
entendi como você, e aqui vai um reparo que fiz várias vezes, continuou a
encher de dinheiro público os bolsos de seus algozes. Caberá aos historiadores
do futuro elucidar por que a TV Globo, ano após ano, continuou a levar 600
milhões de reais de seu governo, assim como ocorrera com o seu antecessor.
Mídia
nenhuma é obrigada a apoiar ninguém. Mas governo nenhum também é obrigado a
anunciar em veículos que, no seu entender, mentem, manipulam, inventam,
distorcem todos os dias, todas as horas.
Os
54 milhões de votos que a senhora teve lhe deram autoridade plena para comandar
as verbas de publicidade federal. É um dos direitos sagrados de quem vence
eleições presidenciais.
Os
bilhões torrados em empresas como a Globo e a Abril, a senhora há de concordar,
teriam sido infinitamente mais bem empregados para construir escolas,
hospitais, portos, estradas, casas populares e por aí vai.
Na
história moderna brasileira, a torrencial publicidade do governo serviu apenas
para selar um pacto entre políticos corruptos e conservadores e os donos das
companhias jornalísticas. Você me enche de dinheiro e eu dou cobertura amiga
para você: este o pacto.
Nem
Lula e nem a senhora mudaram isso. Uma pena, uma desgraça e, para mim, também
um mistério.
Mas
de volta ao sítio que lhe impuseram.
Por
último, se tudo que foi exposto acima não bastasse, vieram Moro e sua Lava Jato
dispostos a erradicar não a corrupção, como se vê pela tranquilidade com que
Cunha se movimentou até que os suíços — repito: os suíços, não os delegados da
PF — provassem cabalmente o tamanho da sua ladroagem e a enormidade de suas
mentiras.
A
plutocracia a imobilizou e, suprema canalhice, a acusou depois de imobilidade.
Getúlio
meteu uma bala no peito sob um cerco parecido. A senhora decidiu combater o bom
combate.
A
história haverá de reconhecer o que homens corruptos tentam de todas as formas
negar-lhe.
Com
admiração.
Paulo
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/carta-aberta-a-dilma-por-paulo-nogueira/
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