Dez
afiadíssimas reflexões de um velho socialista que não tem celular...
Mario
Lobato no Twitter
O
Conversa Afiada reproduz dez reflexões de Saturnino Braga:
DEZ PONTOS
PARA REFLEXÃO
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Sim foi mais um golpe, não adianta parecer jurídico de sustentação nem discurso
no Congresso; a evidência do senso comum é arrasadora e vai prevalecer a longo
prazo. Temer na presidência não terá legitimidade.
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Grande parte da opinião acabou apoiando o golpe convencida, realisticamente, de
que seria a única maneira de tornar o País governável, visto que Dilma Rousseff
teria perdido completamente a condição de governar. É o pragmatismo do fato
consumado se sobrepondo aos princípios institucionais.
-
Se a Presidenta realmente perdeu esta condição de governabilidade, foi por
força da crescente e asfixiante crise política forjada para o golpe,
desencadeada no momento em que ela foi reeleita, com o propósito claro de
derrubá-la. A crise fez parte do golpe, como condição de êxito, e cumpriu o seu
papel. Só que, agora, constituirá um grande problema a ser enfrentado pelos
golpistas
-
O golpe foi cuidadosamente arquitetado e trabalhado, a partir da derrota
eleitoral dos golpistas em 2014, por um comando competente e experiente.
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Foi um golpe declarado e energizado pela mídia, deflagrado por membros
Ministério Público e do Judiciário que já estavam atuando desde um ano antes,
com vistas ao resultado eleitoral que foi perdido. Acabou conjurado e
desenvolvido no Congresso com apoio na cúpula do Judiciário. Tal como o golpe
do Paraguai, poucos anos atrás.
-
Foi uma operação de grande envergadura, planejada e coordenada com competência
especializada e forte poder de sustentação econômica, incluindo o poder de
influir sobre o mercado que, com suas “incertezas”, cooperou decisivamente para
o golpe.
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As evidências também vão mostrando que as razões do golpe estão muito ligadas à
política internacional do Brasil, de rejeitar a ALCA, aderir aos BRICS, criar
as novas instituições financeiras mundiais alternativas, e liderar a América do
Sul em movimento de independência com o Mercosul e a Unasul. Brasil, Argentina
e Venezuela, agora realinhadas politicamente com o grande capital, serão apoios
muito importantes para o novo Tratado Transatlântico, nos moldes do
transpacífico, que vem encontrando resistências na Europa. E José Serra nas
Relações Exteriores é o homem certo para este novo alinhamento
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A atual embaixadora dos EE UU no Brasil é a mesma que tramou o golpe contra o
Presidente Lugo no Paraguai e, como disse Marcelo Lavenère na Comissão do
impeachment, o cérebro e o cofre deste golpe no Brasil estão fora do País.
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A Presidenta Dilma Rousseff demonstra com altivez seu caráter forte e límpido,
sai cercada pelo respeito de uma pessoa honrada, condenada por um Congresso
enlameado de corrupção, e vai continuar lutando contra o golpe.
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É imprevisível, instável e temerária a situação do Brasil nos próximos meses de
um governo sem legitimidade, em meio a uma crise econômica que o próprio golpe
engendrou. E isto também, o atraso do Brasil, atende aos interesses do cérebro
e do cofre que comandaram o golpe.
E
a pergunta surge então naturalmente; surge como manifestação de humor negro mas
deixa um resíduo grosso e ácido que não desaparece: depois desta nova
demonstração de poder e dominação (a quarta demonstração que eu presenciei ao
longo da minha vida), depois deste golpe paraguaio no Brasil, o senso de
realismo que a política exige não recomendaria que desistisse o Brasil de ser
uma nação independente e aderisse abertamente à grande federação do Norte? Afinal,
política demanda respeito à realidade e esta nos mostra fartamente que a
autonomia nacional brasileira é só um sentimento, não uma objetividade. Cada
vez que iniciamos uma política brasileira que contraria os interesses do grande
capital, a mídia, que faz a cabeça do povo, investe maciçamente contra ela e o
golpe se efetiva, de uma forma ou de outra, para anular aquele projeto. Então,
brasileiros, diz a sabedoria realista, vamos cuidar cada um de sua vida e parar
de sonhar com projetos nacionais. Vamos globalizar o nosso país e, a partir
deste reconhecimento pós-moderno, poderemos reivindicar o envio deputados
nossos a Washington para obter recursos para melhorar a nossa vida. Poderemos
abolir as Forças Armadas, como faz a Costa Rica com grande economia, e confiar
ao Império a nossa defesa em caso improvável de agressão. Poderemos renunciar à
nossa moeda e adotar o dólar, como faz o Equador, sem que tenhamos de nos
preocupar mais com estabilidade do Real. Enfim, reconhecer a realidade
incontrastável e cuidar com sabedoria das nossas praias, das nossa favelas e os
nossos festejos.
Quantos
brasileiros, destes muitos que não gostam do Brasil e que sonham em viver em
Miami, que gostam desses golpes políticos que nos reaproximam do mundo rico;
quantos brasileiros já não pensam assim, mesmo que não tenham consciência
clara?
Pra
mim, como disse, é humor negro; mas eu estou fora do mundo real, sou um velho
socialista, não vejo televisão e não tenho celular. Ora.
http://www.conversaafiada.com.br/economia/saturnino-por-que-nao-virar-logo-uma-costa-rica
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