domingo, 19 de abril de 2009

TRIBOS ERRANTES

Na minha época de criança, uma das brincadeiras preferidas da meninada era aquela de “cowboy”, bandido e índio. Inexplicavelmente eu sempre queria ser o índio, ao contrário da maioria dos outros meninos que queriam ser sempre o mocinho, ou até mesmo o bandido. Não sei o porquê de minha preferência. Quem sabe seja um sentimento atávico. Talvez eu possua caracteres de um ascendente remoto, daqueles que permaneceram latentes por várias gerações ou seja, aquela hereditariedade biológica de características psicológicas, intelectuais, comportamentais de que falam os dicionários.

Assim sendo, acompanho com tristeza as várias reclamações e discussões levadas a efeito aqui em Santa Maria, RS, a respeito da presença de índios vendendo seus objetos artesanais nas ruas de nossa cidade. Houve gente que publicou textos em jornais dizendo que eles deveriam ser afastados do centro, já que estariam enfeando justamente o local que é considerado o cartão de visitas da cidade.

Em discussões levadas a efeito em veículos de comunicação, sempre ouço alguém falar que os índios deveriam “evoluir” e abandonar seu modo de vida, integrando-se em nossa civilização, que, segundo eles, seria superior à deles. É claro que não concordo com isso.

Foi assim que, dia destes, escutando em uma rádio local um debate em que estava presente um cacique da nação Terena do Mato Grosso, ao notar que a conversa estava tomando o rumo da dita evolução, aproveitando-me do fato de que o veículo de comunicação oferece a oportunidade aos ouvintes de se manifestarem através de um mural, enviei-lhes o texto que foi lido no ar pelos debatedores e que peço licença para reproduzir aqui. ´

Este é teor completo das minhas considerações :

Por favor. Parem de apregoar que os índios evoluiriam se viessem a se adaptar à nossa cultura. Será que uma civilização que comprometeu o planeta de forma irreversível pode ser considerada evoluída? Será que estão imaginando que as catástrofes que estão ocorrendo, são fruto do acaso ou da ira dos deuses? Não. É conseqüência da ação nefasta e inconseqüente de nossa pretensa “civilização superior” na busca desenfreada daquilo que a maioria alienada da população denomina “desenvolvimento econômico”.

Pobres índios que, após terem sido submetidos à denominada aculturação, na verdade acabaram se perdendo em meio à nossa cultura pretensamente superior. Hoje o que acontece é isso aí: são considerados uma espécie de “personas non gratas” no país que era deles originariamente, um fator de enfeamento da nossa querida cidade cultura, poluindo o “senso estético refinado” das pessoas que por eles passam.


Jorge André Irion Jobim. Advogado

Publicado no site
http://brasil.indymedia.org/pt/blue/2009/04/444976.shtml

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