"Lutaremos
até que os males do latifúndio sejam extintos de nossa sociedade e com ele toda
opressão, miséria, destruição ambiental e fome", diz o movimento social.
O
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou neste sábado (27) a
"Carta Compromisso do MST com a Luta e o Povo Brasileiro". O
documento foi divulgado durante o Ato Político em Comemoração aos 40 anos da
fundação do movimento, ao término da reunião da Coordenação Nacional.
A
carta, que reflete o compromisso contínuo do MST com os ideais de justiça
social e igualdade, destaca os feitos alcançados ao longo de sua história,
relembrando os momentos de luta e resistência que moldaram a trajetória do
movimento. Além disso, a Carta Compromisso aborda os desafios atuais
enfrentados pelo MST, com ênfase na defesa dos recursos naturais e na
preparação para o 7º Congresso Nacional do MST, agendado para julho.
O
texto ressalta a importância da preservação do meio ambiente e da busca por
práticas sustentáveis, destacando o papel fundamental do MST na defesa dos bens
da natureza. Também enfatiza o compromisso do movimento em promover a inclusão
social e econômica dos trabalhadores rurais, consolidando sua posição como voz
ativa na busca por justiça agrária.
"Reafirmamos
o compromisso que assumimos há quarenta anos atrás: lutaremos até que os males
do latifúndio sejam extintos de nossa sociedade e com ele toda opressão,
miséria, destruição ambiental e fome", diz um trecho da carta.
Leia a íntegra
CARTA ABERTA DO COMPROMISSO
DO MST COM A LUTA E O POVO BRASILEIRO
Quarenta
anos depois que mulheres e homens, trabalhadores rurais, tiveram a ousadia e a
coragem de desafiar o latifúndio e criar o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra, nós, integrantes da Coordenação Nacional do MST, nos reunimos em
nossa Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP).
Nos
reunimos para celebrar nossa ancestralidade indígena, africana e camponesa de
tantas lutas históricas do povo brasileiro e para celebrar a longevidade da
nossa organização.
Nos
reunimos para celebrar a conquista da terra. Somos 450 mil famílias assentadas
e mais de 65 mil famílias acampadas. Nos territórios libertados das cercas da
ignorância e da miséria, organizamos centenas de cooperativas, agroindústrias e
escolas do campo. Celebramos a dignidade dos que agora produzem alimentos e
protegem a casa comum, nossa mãe Terra.
É
esta dignidade e altivez que inspiram a luta pela Reforma Agrária Popular a
enfrentar a violência das milícias rurais e a lentidão do Estado, sem recuar na
firme decisão de fazer cumprir a Constituição brasileira: a terra deve ser
democratizada para cumprir sua função social de produzir vida digna à população
camponesa, alimentos saudáveis e preservar a natureza.
Celebramos
a organização dos trabalhadores e trabalhadoras que enfrentaram com coragem e
determinação o golpe de 2016, os retrocessos dos direitos e o desprezo pela
humanidade do governo Bolsonaro na pandemia da Covid-19. Com resistência ativa
nos acampamentos e assentamentos, construindo a Reforma Agrária Popular,
priorizamos a vida, fortalecemos as ações de solidariedade e as mobilizações
populares em todo o país.
Esta
organização foi determinante para eleger o Presidente Lula e sua vitória
eleitoral foi um marco importante na luta internacional contra a ofensiva da
extrema-direita. Construímos e participamos desta conquista. E, apoiamos todas
as iniciativas do governo para enfrentar a fome, a miséria, o desemprego e para
reindustrializar o país sobre novas bases sustentáveis. O Presidente Lula tem
diante de si muitos desafios e obstáculos e sabe que somente a mobilização e a
participação popular são capazes de realizar as transformações estruturais que
nossa sociedade tanto precisa.
Nestas
quatro décadas, enfrentamos inúmeras tentativas de criminalizar a luta social.
Nenhuma organização sofreu tantas ameaças de Comissões de Parlamentares pelas
forças conservadoras. Celebramos e agradecemos a solidariedade que recebemos
diante da tentativa fracassada da bancada ruralista e da extrema-direita em nos
criminalizar com a abertura de uma CPI contra o MST, que também buscou
intimidar o governo Lula.
Nos
preocupamos com o acirramento dos conflitos no campo, marcado pela
criminalização e pelos assassinatos de lideranças quilombolas, indígenas e
camponeses Sem Terra por todo o país.
Iniciativas
como “Invasão Zero” estimulam a escalada de violência das milícias de
Latifundiários e setores do Agronegócio em defesa do atraso e de um dos maiores
índices de concentração de terras no mundo. Nos solidarizamos aos familiares
dos que tombaram na luta pela terra, na defesa dos bens da natureza e
reconhecimento de seus territórios.
Promotora
da morte, a Bancada Ruralista aprovou a liberação desenfreada do uso dos
agrotóxicos, atacou as terras indígenas, despejou dinheiro em falsas soluções
para a crise climática e financiou a tentativa de golpe em 8 de janeiro de
2023.
Nos
preocupamos que o primeiro ano do governo Lula terminou com o mesmo número de
famílias acampadas do início do seu mandato. As possibilidades para resolver
esse passivo são muitas, desde que haja determinação do governo em enfrentar a
grilagem e a concentração agrária que historicamente marcou a estrutura
fundiária brasileira.
Isso
exige ainda um orçamento para o Ministério do Desenvolvimento Agrário e para o
INCRA que seja capaz de retomar as políticas públicas para a reforma agrária em
2024, e que tenha condições reais de estruturar e fortalecer a organização
daqueles e daquelas que produzem alimentos saudáveis, zelam da natureza e
promovem justiça social.
A
Reforma Agrária é uma ação estruturante e estratégica para combater diversas
mazelas econômicas e sociais em nosso país, como a destruição da natureza, o
desmatamento e o garimpo ilegal, a fome que assola a vida de milhões de
pessoas, a concentração da renda e poder.
Por
isso, nos comprometemos em seguir lutando pela democratização do acesso à
terra, zelando pelos bens da natureza e pelas garantias dos direitos dos povos
e comunidades do campo, das águas e das florestas em exercer a autonomia em
seus territórios.
Reafirmamos
nosso compromisso com o povo brasileiro e com a construção de uma nação mais
justa e igualitária através da luta e da construção da Reforma Agrária Popular.
Mais do que a democratização da terra, a reforma agrária, para nós, deve
produzir alimentos saudáveis para alimentar todo o povo brasileiro, proteger os
bens comuns da natureza e construir uma vida digna no campo.
Nos
comprometemos em lutar contra a crise climática criada pelos países do Norte
Global, pelos ricos do mundo, pelas transnacionais poluidoras e pelo
agronegócio. Nos comprometemos com a preservação dos bens comuns da natureza e
mantemos nossa meta de plantar 100 milhões de árvores e exigimos que os
governos assumam o compromisso com o Desmatamento Zero e uma política massiva
de reflorestamento.
Nos
comprometemos em lutar contra todas as formas de opressão e injustiça, em
enfrentar incansavelmente toda forma de racismo, discriminação e LGBTfobia.
Somos solidários e não nos calaremos diante do genocídio do povo palestino em
Gaza, conduzido pelo Estado de Israel e pelos Estados Unidos, e nem diante da
prisão ilegal de Julian Assange, ativista da democratização da informação e
denunciante dos crimes de guerra dos Estados Unidos.
Por
fim, reafirmamos o compromisso que assumimos há quarenta anos atrás: lutaremos
até que os males do latifúndio sejam extintos de nossa sociedade e com ele toda
opressão, miséria, destruição ambiental e fome.
Queremos
reafirmar estes compromissos na luta cotidiana, mas especialmente, em nosso VII
Congresso Nacional, a ser realizado em julho deste ano em Brasília (DF).
E,
convidamos o povo brasileiro a celebrar nossa cultura e nossa produção e em
conhecer a atualização de nosso Programa de Reforma Agrária Popular e o que
propomos para construir um campo e um país de vida digna e saudável!
Viva
o povo brasileiro! Viva a luta popular!
Lutar, construir Reforma Agrária Popular!
Rumo ao VII Congresso Nacional do MST!
Escola Nacional Florestan
Fernandes, Guararema, 27 de Janeiro de 2024.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST"
https://revistaforum.com.br/movimentos/2024/1/28/mst-40-anos-leia-carta-do-movimento-ao-povo-brasileiro-lanada-em-seu-aniversario-153018.html
Lutar, construir Reforma Agrária Popular!
Rumo ao VII Congresso Nacional do MST!
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST"
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