A visita nesta terça-feira (3) do conselheiro para
Assuntos Políticos da Embaixada dos EUA em Brasília, Willard Smith, ao Tribunal
da Lava Jato, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), onde foi
recebido pelo presidente da corte, o desembargador Victor Luiz dos Santos Laus,
é um inadmissível ato intervencionista nos assuntos internos do Brasil.
E da parte dos torquemadas que na usina de sentenças
forjadas fabricaram as condenações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -
uma das quais resultou no seu encarceramento durante 580 longos dias - é ato de
lesa-pátria, uma vergonhosa demonstração de subserviência, uma ata de acusação
a si próprios de que procuradores e juízes da Lava Jato estão ao serviço da
estratégia de guerra jurídica de Washington contra a democracia na América
Latina, que no caso do Brasil tem por alvo principal o ex-presidente Lula.
Causa repugnância a uma nação estarrecida, sob um golpe
político e jurídico que resultou na instalação de um governo neofascista, que
os torquemadas de Curitiba e Porto Alegre e os imperialistas estadunidenses não
tenham tido sequer a preocupação de guardar as aparências.
É como se o pudor nas condutas políticas e diplomáticas
tenha mesmo ido embora nesta época em que se abre nova etapa do golpe
continuado no Brasil e da estratégia intervencionista estadunidense na região
que o império considera seu quintal.
Tudo já acontece sob a luz dos holofotes e o esplendor das
imagens de televisão. Na época dos golpes de antanho, certas ações eram feitas
às escondidas e só vinham à tona décadas depois quando arquivos eram
desclassificados.
Hoje, não. O golpismo doméstico, em contubérnio com o
intervencionismo imperialista, atua de forma explícita. Têm a sensação da
impunidade, tomados pela embriaguez da vitória, mesmo que conquistada no
tapetão do "Parquet".
Foi o que deixaram evidente o juiz e o diplomata no
encontro desta terça-feira em Porto Alegre. O conselheiro representante de
Trump no Brasil ressaltou que está se atualizando no acompanhamento da Operação
Lava Jato, os julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) e debates sobre
temas como o compartilhamento de dados sigilosos de órgãos de controle
financeiro sem prévia autorização judicial.
Por seu turno, o desembargador-chefe da corte da Lava
Jato, que já atuou por duas vezes como algoz do ex-presidente Lula, destacou a
importância de órgãos como a Embaixada norte-americana se aproximarem da
Justiça e dos tribunais, pois isso a seu ver, possibilita uma maior integração
e articulação entre as instituições.
A nova geração dos golpes de Estado na América Latina tem contado
com o componente da chamada lawfare. Engendrada nos Departamentos de Estado,
Justiça, Tesouro e órgãos de espionagem dos Estados Unidos, a estratégia foi e
continua sendo aplicada com toda a intensidade no continente. Foi planificada
durante mais de uma década para atacar, desestabilizar e derrubar os governos
democráticos, populares e progressistas, que iniciaram uma experiência de
integração regional, desenvolvimento autônomo e exercício de uma política
externa anti-hegemônica.
Esta ofensiva, que integra a política de mudanças de
regime, derrubou governos e condenou - em alguns casos, como o de Lula, prendeu
- importantes líderes populares: Dilma Rousseff, Fernando Lugo, Cristina
Kirchner, Jesús Santrich, Rafael Correa, Jorge Glas, Maurício Funes, que foram
alvo de golpes de Estado ou processos judiciais.
A guerra jurídica, como instrumento de intervenção
imperialista aparece às claras - como a visita desta terça-feira do diplomata
de Trump ao tribunal da Lava Jato deixa transparecer.
Em momentos como este e diante de tamanhas evidências de
intervencionismo, convém refletir sobre as palavras do experiente diplomata
Rubens Ricupero, que advertiu, em entrevista à revista Isto E, em maio deste
ano: “É um equívoco ver os EUA como o país que deve nos liderar”.
Ou sobre a sentença do saudoso acadêmico Moniz Bandeira,
um dos mais lúcidos estudiosos que tivemos sobre as ligações do Brasil com os
Estados Unidos, que ele classificava como "relações perigosas".
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