Então
é Natal. E eu pergunto às pessoas que estão embevecidas com a data se elas
sabem exatamente qual é o significado do evento e todas parecem ficar
incomodadas com o questionamento. Afinal, para a maioria da população ela representa tão somente
uma época em que injetaremos altas doses de consumismo na veia para gáudio do
sistema capitalista. É como se uma pessoa utilizasse a droga e outra sentisse a
fissura.
Daqui
a alguns dias, os efeitos deste orgasmo
de consumo desmedido estará espalhado em nossos quintais, irá
para os lixões e depois será desovado em algum lugar do planeta juntamente com
todos os consectários nefastos para o meio ambiente que já estamos cansados de
saber. De qualquer maneira, não há como fugir; somos levados de roldão e mesmo
aqueles que não professam religião alguma, são arrastados pela grande onda.
Alguns
poucos dizem tratar-se de um tempo de reflexão, porém, quando trago à tona os
problemas que estão afligindo a civilização e o planeta, eles me mandam parar.
Afirmam que a reflexão deve se restringir às questões individuais, sobre
planejamentos a respeito daquilo que devemos mudar em nós mesmos para nos
tornarmos pessoas mais disciplinadas e produtivas. Em suma, peças mais convenientes para o grande
deus-capital.
Retruco
que o indivíduo deve tentar se lapidar realmente, buscando o máximo de brilho
possível, mas que esta luz deve ser utilizada para iluminar os seres que nos
cercam e que não a possuem suficientemente. Que devemos usá-la para fazer uma
profunda reflexão sobre as desigualdades sociais que se tornam bem mais
evidenciadas em épocas como essa. Enfim, que devemos melhorar para podermos
exercer com maior plenitude a tão necessária solidariedade para com todos
demais os seres do universo e não apenas para tirarmos maiores proveitos para a
nossa esfera individual.
Palavras
ao vento. Ninguém está disposto a parar e escutar. As lojas em poucas horas irão fechar e
eles precisam correr para comprar os presentes até mesmo para pessoas que
detestam, mas que a deplorável imposição do politicamente correto lhes obriga a
presentear. E daí? Afinal, montanhas de lixo irão abafar qualquer resquício
de culpa que possa lhes assombrar futuramente por não terem percebido e
incorporado o verdadeiro significado que eles mesmos afirmam possuir o Natal.
Então é Natal. E o que você fez?
Jorge André Irion Jobim.
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