"Sem
o espetáculo midiático, autoridades mal-intencionadas, que estejam mais
interessadas na fama de xerifes — e na sua monetização — do que propriamente no
combate à corrupção, perderão o incentivo para perseguir seus desafetos ou
'peixes grandes que rendam notícia de jornal", diz o jornalista Leonardo
Attuch, editor do 247
O
projeto contra abuso de autoridade aprovado ontem representa um tiro de bazuca
contra a justiça do espetáculo, que não merece ser chamada de Justiça e se
tornou padrão no Brasil. É também o fim do “trial by media”, ou seja, dos
processos que se desenrolam em páginas de jornais.
Ficam
proibidas conduções coercitivas sem intimação previa, exposições de presos
provisórios a situação vexatória, grampo de advogados e divulgação de áudios
não relacionados aos processos — tudo que se fez na Lava Jato. E quem abusar de
seu poder fica sujeito à perda do cargo.
Sem
o espetáculo midiático, autoridades mal-intencionadas, que estejam mais
interessadas na fama de xerifes — e na sua monetização — do que propriamente no
combate à corrupção, perderão o incentivo para perseguir seus desafetos ou
“peixes grandes” que rendam notícia de jornal.
Talvez
por isso os procuradores expostos em diálogos constrangedores na Vaza Jato já
estejam iniciando seu lobby contra o projeto. Dallagnol, por exemplo, argumenta
que depois da Mãos Limpas a Itália impôs leis contra abusos de autoridade e
voltou a ser um paraíso da corrupção.
Nada
mais falso. Nos países com os menores índices de corrupção do mundo não existem
juizes-celebridade nem procuradores-Instagram — e muito menos agentes públicos
que faturem fortunas com palestras a partir da fama conquistada com o “combate
à corrupção”.
A
partir deste avanço institucional, que deverá ser batizado como Lei Cancellier,
coloca-se um desafio para o aparelho repressivo do estado, que será o de atuar
dentro da legalidade, e também para a mídia, que perderá os escândalos
fabricados de graça por agentes públicos.
O
próximo passo civilizatório no Brasil será coibir programas policiais do
chamado “mundo cão” da televisão brasileira, que há anos expõem pobres à
humilhação e disseminam a cultura de que “bandido bom é bandido morto”. Foi
este caldo de cultura que fez germinar o fascismo.
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