A
greve geral que ocorre nesta sexta-feira (14) em todo o Brasil, envolvendo
todas as categorias profissionais, vai ficar na história.
Os
trabalhadores param, hoje, contra a reforma da Previdência que o presidente de
direita, Jair Bolsonaro, quer impor ao país, em defesa da aposentadoria digna,
do emprego e da educação. A proposta de reforma da Previdência
"encaminhada ao Congresso não combate desigualdades nem tampouco
privilégios. Prejudica os mais pobres e só beneficia os ricos, sobretudo
banqueiros e grandes empresários", acusa a Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A
greve geral que ocorre faz parte de uma série já centenária de movimentos da
luta do povo e dos trablhadores pela conquista e garantia de direitos
gravemente ameaçados desde a ascensão do usurpador Michel Temer, levado à
presidência da República pelo golpe de 2016, e desde a posse do radical de direita
Jair Bolsonaro, levado à chefia da Nação pela suspeita eleição de 2018.
Este
artigo vai referir-se a algumas greves, que foram de natureza econômica e
também política, com o objetivo de rememorar a intensa luta do povo e dos
trabalhadores.
Há
mais de cem anos, em junho da 1917, teve início no Cotonifício Crespi, na
Mooca, em São Paulo, a primeira greve geral ocorrida no Brasil, na qual as
mulheres tiveram desempenho decisivo.
A
greve logo se espalhou pela capital paulista, ganhou a adesão de cidades do
interior e, depois, repercutiu em estados como o Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul, Minas Gerais e Pernambuco. Durou 30 dias, em defesa de uma pauta que
incluía aumento salarial, regulamentação da jornada diária de trabalho (que
podia chegar a 16 horas!), do trabalho de mulheres e crianças, e melhores
condições de trabalho.
A
brutal repressão deixou mortos e feridos, e provocou a solidariedade da
população e outras categorias profissionais. Em julho a cidade de São Paulo
parou, no dia 11, para acompanhar o enterro do sapateiro José Martinez,
assassinado a tiros pela polícia.
Anos
mais tarde, em 1953, ocorreu em São Paulo aquela que ficou conhecida como a
"Greve dos 300 mil" que, embora não tenha tido o caráter de greve
geral, deixou uma marca importante na luta dos trabalhadores. Teve início, como
na greve de 1917, entre os trabalhadores têxteis, ganhando depis a adesão de
setores como vidraceiros, metalúrgicos, gráficos e marceneiros . Todos lutavam
por melhores salários e contra o extorsivo custo de vida. Uma semana antes do
início da greve ocorreu, em São Paulo, no dia 18 de março, a passeata da
“Panela Vazia”, que mobilizou 60 mil pessoas.
O
Partido Comunista do Brasil e seu dirigente, Carlos Marighela, tiveram forte
atuação na organização do movimento e na articulação dos vários segmentos de
trabalhadores. O resultado da greve foi positivo, resultando num aumento
salarial de 32% e, logo mais, influindo na nomeação de João Goulart para o
ministério do Trabalho.
Naqueles
anos, entre idas e vindas, a luta dos trabalhadores teve grande avanço,
passando das pautas econômicas para aquelas claramente políticas.
Em
junho de 1962, por exemplo, a mobilização do Comando Nacional de Greve (futuro
Comando Geral dos Trabalhadores - CGT) barrou a a nomeação do senador
conservador Auro de Moura Andrade como primeiro ministro - sob ameaça de greve
geral.
A
greve geral de fato ocorreu em 5 de julho, e Goulart nomeou o progressista
Francisco Brochado da Rocha para o cargo.
A
greve foi duramente reprimida, sobretudo no Rio de Janeiro, onde o "motim
da fome" levou a saques, havendo violenta repressão policial, com mais de
50 mortos. Houve paralizações em Belém, Belo Horizonte, Campina Grande (PB),
Criciúma SC), Cubatão (SP), Fortaleza, Itajaí (SC), Paranaguá (PR), Recife,
Salvador, São Paulo, Santos (SP), Vitória, entre outras cidades.
E
teve um resultado importante para os trabalhadores - influenciou na aprovação
da lei 4090/62, que criou o 13º salário.
Em
15 de setembro de 1962 outra greve geral defendeu a antecipação da data do
plebiscito para decidir entre o presidencialismo e o parlamentarismo - que
havia sido imposto pelos ministros militares após a renúncia do presidente
Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961. A antecipação do plebiscito foi
aprovada pelo Congresso para o dia 6 de janeiro de 1963, sendo o
presidencialismo amplamente vitorioso (com mais de 80% dos votos), numa
autêntica eleição do presidente João Goulart.
O
golpe militar que, em abril de 1964, encerrou a democracia no Brasil e
instaurou a ditadura militar, reprimiu a luta democrática dos trabalhadores,
mas não a encerrou. Em 1968 ocorreram as greves em Contagem, MG (16 de abril),
e Osasco, SP (16 de julho ), as primeiras grandes greves ocorridas sob a
ditadura, parando milhares de metalúrgicos em defesa de melhores salários e
condições de trabalho. A repressão foi, como sempre, extremamente violenta.
Mesmo
depois da repressão acentuada após aquelas greves, as lutas dos trabalhadores
continuaram, em atividades mais restritas, como operações-tartaruga e ações
desse tipo.
A
luta aberta renasceu dez anos depois nas greves dos metalúrgicos em São
Bernardo do Campo. A greve iniciada em 12 de maio de 1978, na fábrica da Sc
ânia, esteve na origem do movimento que, naqueles anos, confrontou a ditadura
militar. Em 1978, a luta era por melhores salários e em protesto contra a
manipulação do índice da inflação que, em 1973, impôs grande perda salarial aos
trabalhadores.
A
greve logo se espalhou no estado de São Paulo. Em 1979, nova onda grevista, por
melhores salários e condições de trabalho, teve início também no ABC paulista,
e se espalhou pelo Brasil. Da mesma forma como a grande greve de abril-maio de
1980 que, embora não tenha obtido ganhos econômicos, infringiu decisiva derrota
política à ditadura e desmoralizou sua política de abertura lenta, gradual e
controlada.
Outra
greve geral marcante foi a de 12 de dezembro de 1986 - a primeira que ocorreu
depois do fim da ditadura militar. O estopim foram as mudanças econômicas
anunciadas pelo governo de José Sarney, o chamado Plano Cruzado II, que
congelou preços e salários, a pretexto de combater a inflação. Foi convocada
pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Central Geral dos
Trabalhadores (CGT), e incluía entre as reivindicações, o não pagamento da
dívida externa brasileira. Cerca de 25 milhões de trabalhadores aderiram, em
todo o país.
Em
20 de agosto de 1987 houve nova paralização, convocada pelas duas principais
centrais sindicais - a CUT e a CGT. O alvo era o Plano Bresser implantado pelo
governo Sarney, que também congelou preços e salários, com o mesmo pretexto de
combater a inflação.
Desde
1988 o direito de greve foi reconhecido constitucionalmente, como um direito
fundamental dos trabalhadores. sendo registrado no artigo 9º da Constituição
Cidadã.
Direito
que os trabalhadores continuaram usando em defesa de seus direitos e
reivindicações.
Como
a greve geral de 14 e 15 de março de 1989, que até recentemente foi considerada
a maior realizada no Brasil, envolvendo 35 milhões de trabalhadores. Convocada
pela CUT e CGT, protestava contra a inflação, que atingiu 1.782,9% ao ano, e
rejeitava o Plano Verão, adotado pelo governo Sarney, baseado na mudança do
rendimento da caderneta de poupança e no congelamento de preços e salários.
Os
trabalhadores voltaram a parar nos dias 22 e 23 de maio de 1991, na greve geral
de 48 horas, convocada pela CUT, Central Geral dos Trabalhadores e Confederação
Geral dos Trabalhadores. Mais de 19,5 milhões de trabalhadores aderiram, em
protesto contra o governo de Fernando Collor de Mello, por garantia no emprego
e exigindo reposição de perdas salariais, em defesa dos serviços públicos e
pelo fim do aumento abusivo nos preços dos aluguéis e prestações da casa
própria.
Em
21 de junho de 1996, a luta dos trabalhadores - tendo à frentre as centrais
CUT, Força Sindical e CGT - voltou-se contra a política econômica neoliberal do
governo de Fernando Henrique Cardoso. Mais de 12 milhões de trabalhadores
pararam, contra as privatizações e o desemprego; exigiam melhores condições de
emprego, aumentos salariais, defendiam a aposentadoria, a reforma agrária e a
garantia de seus direitos sociais.
A
greve geral, como instrumento de luta em defesa dos direitos sociais e
econômicos do povo e dos trabalhadores, volta a aparecer no cenário político
brasileiro em 2017, depois do golpe de Estado de 2016, que depôs a presidenta
legítima Dilma Rousseff e colocou, em seu lugar, o usurpador Michel Temer - que
logo mostrou a que veio, investindo pesadamente contra direitos históricos
conquistados pelos trabalhadores depois de lutas intensas. Temer promoveu,
nesse sentido, a chamada reforma trabalhista, que jogou a CLT e os direitos dos
trabalhadores na lata do lixo.
Contra
as reacionárias reformas da Previdência e trabalhista de Temer nove centrais
sindicais, entre elas a CTB, a CUT e a Força Sindical, convocaram a greve geral
de 28 de abril de 2017, que teve a adesão de 40 milhões de trabalhadores em todos
os estados do país.
A
história mostra, mesmo em um levantamento sucinto como o apresentado neste
artigo, que a disposição e capacidade de luta dos trabalhadores brasileiros
está presente em todos os momentos decisivos na história, levantando alto as bandeiras
políticas da democracia e da soberania nacional, e sociais, dos direitos do
povo.
Os
trabalhadores brasileiros não se rendem nem abaixam a cabeça, como ficou
demonstrado pelos mais de 45 milhões que nesta sexta-feira histórica, 14 de
julho de 2019, pararam em defesa de seus direitos e do progresso social,
ameaçados pelo governo de direita de Jair Bolsonaro.
http://www.vermelho.org.br/noticia/321281-1
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