Tenho
para mim que muito da dramática realidade social que estamos vivenciando
decorre de um sórdido “trabalho”, sistemático e permanente, da grande imprensa
no sentido de despolitizar o cidadão brasileiro.
A
mídia empresarial criou, na opinião pública, a falsa crença de que a política é
“coisa” perversa e que todos os políticos são corruptos ou incompetentes.
Parece
que parte do Poder Judiciário e parte do Ministério Público também restaram
“seduzidos” por esta falácia …
Ministério
Púbico e Poder Judiciário estão criminalizando a política, fingindo desconhecer
que era lícito o financiamento empresarial das campanhas políticas. Quaisquer
atividades legislativas ou administrativas que vieram a beneficiar determinado
segmento empresarial, eles tipificam como crime de corrupção passiva, sem um
nexo de causalidade mais próximo e bem definido com a doações anteriores.
A
Política e o Direito operam em patamares morais distintos. O Direito não se
confunde com a moral. O Direito há de estar positivado nas normas jurídicas,
enquanto a moral está na mente das pessoas.
A
má-fé é patente, pois estas empresas de comunicação sabem muito bem que não há
país no mundo sem governo e não há governo sem política. Não há como liderar
sequer um grupo social sem negociar com apoiadores e adversários. Tudo em
sociedade é regido pela política !!!
O
resultado desta desinformação é gritante. As pessoas se mostram contraditórias,
pois não têm condições de compreender corretamente os acontecimentos
econômicos, políticos, jurídicos e sociais.
Tudo
isso cria, na população, uma postura de total alienação ideológica, um falso
moralismo e um nacionalismo exacerbado, campos ideais para a fertilização do
fascismo. O fundamentalismo religioso também é um grande auxiliar do
obscurantismo.
Não
é por outro motivo que o novo governo – de extrema direita – já está atacando a
educação formal, mormente aquele conhecimento produzido na academia, nas
universidades. Estes são um importante campo de resistência ao fascismo.
O
futuro presidente do Brasil bem representa estas posturas totalitárias e
conservadoras. Seu grupo político faz política dizendo que não são políticos ou
vão governar sem fazer política, como se isso fosse possível. Eles são um
contradição em si mesmo … Fazem política ao dizer que não são políticos, ao
dizer que não fazem política …
O
grupo político do tosco capitão é truculento e é composto de pessoas
intolerantes, despreparadas. Isto agradou aos seus eleitores, que apreciam a
ignorância e soluções simplistas para problemas complexos. Continuam com os
velhos e desgastados bordões: defesa da família e de falsos valores religiosos,
combate à corrupção e ao comunismo (que sequer sabem o seu real significado)
!!!
São
moralistas hipócritas (cadê o motorista-assessor Queiroz?) e agem em desacordo
com os princípios cristãos. Seriam cristãos pregando o contrário do que pregou
Jesus de Nazareth.
Não
pode existir a menor dúvida de que Jesus não votaria em um candidato que disse
ser favorável à tortura de seres humanos e do extermínio de seus adversários
ideológicos. Jesus estaria gritando “ele não” !!!
O
momento é perigoso e estamos correndo algum risco de cairmos no obscurantismo e
em alguma espécie de “terror social”, com perseguição e extermínio de minorias.
Desta
forma, temos de, incessantemente, criar uma espécie de “corrente de
esclarecimento” à população menos informada.
Precisamos
criar, também, uma estrutura mínima que permita que troquemos informações e
receba denúncias de violações a nossos direitos para dar publicidade a eles.
Por
derradeiro, acho que temos de alertar, a todos e permanentemente, sobre o
perigo do fascismo em nosso meio social. Enfim, DEMOCRACIA NELES !!!.
Importante
notar que a legítima defesa exclui a ilicitude de reações necessárias e
urgentes. Dispõe o Código Penal: “Artigo 25 – Entende-se em legítima defesa
quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”
Dentro
do nosso ordenamento jurídico, vamos resistir em todas esferas. Os melhores
valores, cunhados por um lento e doloroso processo civilizatório, não podem
sucumbir diante de um obscurantismo cultural e de truculências fascistas.
Resistir, é preciso !!!
Afrânio Silva
Jardim, professor associado de Processual Penal da Uerj.
http://www.contextolivre.com.br/2018/12/o-fascismo-nao-necessita-de-muito-alem.html
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