São
Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) celebrou neste sábado
(26) seus 35 anos de existência em encontro com 400 militantes na Escola
Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP). “Não vamos abrir mão de
continuar em luta.
Ocupando
terra, dialogando com a sociedade, defendendo os direitos da classe
trabalhadora e produzindo alimentos saudáveis”, afirmou o representante da
direção nacional do MST, João Pedro Stédile, que ressaltou a disposição de toda
a militância do movimento de seguir em resistência e em luta permanente.
O
ato político contou com a presença de parlamentares, representantes de
movimentos populares, professores universitários e amigos e amigas da
organização, e reafirmou em toda sua mística a disposição dos Sem Terra em todo
o país de seguir na construção da resistência, que possa avançar na construção
do projeto de Reforma Agrária Popular e de um novo modelo de sociedade.
Moisés
Borges, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) reforçou o legado do MST
na luta no país. “São 35 anos de história, 35 anos de luta, de organização e de
exemplo para os movimentos populares, nessa capacidade incrível de se
reinventar. Esse exemplo é o que faz com que a gente acredite que esse cenário
político que vivemos hoje, será derrotado por nós”, disse.
Participaram
ainda do ato político Rui Falcão, do Partido dos Trabalhadores (PT), Walter
Sorrentino, do PCdoB, Vagner Freitas, presidente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), representação do Movimento dos Pequenos Agricultores
(MPA), Levante Popular da Juventude, Movimento de Mulheres Camponesas (MMC),
além de parlamentares do PT e PCdoB.
Crianças,
jovens, homens, mulheres, sujeitos da diversidade sexual, negros e negras,
referendando a identidade Sem Terra, de punhos erguidos, bandeiras tremulando
no alto e ferramentas de trabalho em mãos, fizeram ecoar juntos e juntas a
mensagem da resistência daqueles e daquelas que amam a revolução.
Representando
o PT, Rui Falcão destacou o papel do MST na organização e na luta da classe
trabalhadora no país.
“O
MST surge numa década de grandes mudanças, década em que em conjunto nós
conseguimos derrotar a ditadura e agora, 35 anos depois, nos deparamos com
outro tipo de ditadura. Uma ditadura que não coloca tanques e fuzis na rua, mas
se associa com a mídia, com o judiciário e com o grande capital para retirar
direitos do povo”, disse. “O MST foi e segue sendo importante nessa trajetória
e temos toda a disposição de lutarmos juntos nas ruas, no parlamento, em
unidade, para que a gente possa trazer de volta ao Brasil a democracia e os
direitos”, concluiu.
O
ato marcou a entrega da Menção Honrosa da Assembleia Legislativa do Paraná em
homenagem aos 35 anos do MST, entregue pelo Deputado Estadual Professor Lemos
(PT) ao conjunto do Movimento, destacando o papel do MST na luta pela terra no
Paraná e em todo o país.
Durante
o ato, o MST lançou a “Carta ao Povo Brasileiro”, abordando a posição do
Movimento na atual conjuntura política brasileira e internacional. “Lutaremos
pela democracia, pela justiça, pela igualdade, pela defesa dos bens da
natureza, pela democratização da terra e pela produção de alimentos saudáveis
para alimentar o povo brasileiro”, destacou trecho da carta.
A
carta reforça ainda a solidariedade do Movimento ao Povo Venezuelano, na luta pela
soberania dos povos em todo o mundo.
Confira a Carta ao Povo
Brasileiro na íntegra:
O
Movimento Sem Terra celebra seus 35 anos de luta pela reforma agrária e por
justiça social. Nascemos no final da ditadura civil-militar, junto com milhares
de lutadores e lutadoras que defenderam a democracia e desafiaram o
autoritarismo. Mais uma vez, reafirmamos nosso compromisso de lutar pela
democratização da terra, pela produção de alimentos saudáveis, pela soberania
popular e por uma sociedade emancipada.
Diante
da crise estrutural do capital, com consequências graves e destrutivas para a
natureza e a humanidade, nossas tarefas políticas se tornam ainda mais urgentes
e necessárias. As saídas apresentadas pelo capital financeiro, nada tem a ver
com as necessidades humanas, pois resultam em aumento da superexploração dos
trabalhadores e trabalhadoras, através da precarização do trabalho, desmonte
das políticas públicas, agressiva retirada de direitos e expropriações
diversas, elevando de forma brutal, os níveis de desigualdade social. Para
executá-las, o capital requer um Estado cada vez mais autoritário, voltado à
repressão, violentando e perseguindo os mais pobres, promovendo um cruel
genocídio da juventude negra.
Foi
desta forma que os meios de comunicação, o poder judiciário, os bancos, os
militares e o agronegócio, levaram ao poder, neofascista e ultraliberal, um
capitão reformado que atua pelas formas mais baixas e vulgares da política,
para manter os privilégios dos que historicamente saquearam o país e atacar
diretamente os direitos da classe trabalhadora, através de ajustes fiscais,
privatizações e subordinação da nossa economia ao capital internacional,
principalmente dos EUA.
A
subordinação das questões indígenas, fundiárias e ambientais aos interesses da
bancada ruralista e do agrotóxico no Ministério da Agricultura; o desmonte da
previdência social; a ameaça da entrega das empresas e bancos nacionais, como
Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal; a liberação da posse de
armas são algumas das políticas mortíferas adotadas por esse (des)governo, que
colocam em risco a nossa biodiversidade e acirram os conflitos no campo
atingindo frontalmente os indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses,
assentados e acampados da Reforma Agrária e evidencia a característica antinacional e antipopular do atual
governo.
É
preciso ocupar as ruas e as praças denunciando a voracidade dessas políticas
que aprofundam a expropriação e exploração capitalista.
Assim,
nos comprometemos em lutar e defender todos e todas trabalhadores e
trabalhadoras que tenham sua existência ameaçada. Seguiremos defendendo a
soberania dos e povos e lutando contra qualquer tipo de ingerência política
e/ou intervencionismo militar em qualquer país. Declaramos total solidariedades
ao povo Venezuelano!
Nos
solidarizamos com as famílias atingidas pela barragem de Brumadinho, vítimas de
mais uma ação criminosa e reincidente da Vale, uma assassina protegida pelo
poder judiciário.
Nos
somaremos a mobilização das mulheres trabalhadoras no 8 de março, seremos
zeladores do legado e a memória de Marielle Franco e de tantos outros
companheiros e companheiras que tombaram, exigindo a punição dos seus
assassinos e mandantes. Defenderemos a liberdade do companheiro Lula, cuja
prisão política foi utilizada para que esse projeto fosse vitorioso nas
eleições.
Nos
comprometemos em fortalecer a Frente Brasil Popular e todas as iniciativas de
luta da classe trabalhadora que confrontem a exploração, a subordinação e a
opressão, nos somando na luta cotidiana das mulheres, da população urbana e
camponesa, dos negros e negras, dos povos indígenas e dos sujeitos LGBT.
Lutaremos
pela democracia, pela justiça, pela igualdade, pela defesa dos bens da
natureza, pela democratização da terra e pela produção de alimentos saudáveis
para alimentar o povo brasileiro.
Lutar,
construir Reforma Agrária Popular!
Coordenação
Nacional do MST
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