2018
representa o fim do longo ano que começou com 2013, quando começou o profundo
processo de reversão do que de melhor o Brasil havia construído. Não interessa
como começaram as manifestações daquele ano, nem suas intenções originais.
Interessa que foram apropriadas pela direita, com seu monstruoso aparato
midiático, para dar início ao processo de desqualificação da política –
valendo-se do "contra tudo isso que está aí", das manifestações -,
mas dirigido diretamente contra o Estado e contra o governo do PT.
A
reversão da imagem da Petrobrás aprofundou a criminalização da política feita
pela Lava Jato, junto a reversão da imagem do PT, que vinha desde o chamado
"mensalão". Foram duas grandes vitórias da direita, essas duas
reversões.
Tudo
o que o Brasil tinha feito de melhor começou a ser revertido na sua imagem
pública: a prioridade das políticas sociais; uma economia que crescia com
distribuição de renda; o fortalecimento dos bancos públicos, vinculado a
expansão das políticas sociais e ao crédito com juros baixos; uma política
externa soberana, que fazia do Brasil um protagonista dos grandes temas do
mundo; a própria imagem do Lula como o maior estadista do século XXI e mais
importante líder da esquerda no século. Era precisa reverter tudo isso, para
que fosse possível terminar com esse ciclo virtuoso da política brasileira.
O
golpe de 2016 foi um dos auges do reino da hipocrisia: se fez como se a
derrubada da Dilma tivesse sido legal, como se as tais "pedaladas
fiscais" fossem razão para tirar da presidência quem havia sido
recém-reeleita pelo voto popular. Como se um vice-presidente eleito e reeleito
com um programa, pudesse, além do acesso ilegal à Presidência, colocar em
prática um programa radicalmente oposto, o da oposição, derrotado quatro vezes
seguidas nas eleições.
O
reino da hipocrisia chegava ao governo e a mídia, o Judiciário, o Congresso e o
grande empresariado vestiam a roupa da hipocrisia para dar apoio ao governo que
assaltava o governo e o Estado, para dilapidar o patrimônio publico, as
políticas sociais, os direitos dos trabalhadores e a política externa soberana.
Mas
a hipocrisia precisaria ser elevada a níveis mais altos ainda, para que a
oligarquia se apropriasse do poder e impedisse que o povo voltasse a
influenciar nos problemas do país. Para que a hipocrisia da elite brasileira
pudesse se traduzir num regime hipócrita.
Aí
veio o processo e a condenação do Lula por um crime que ele não cometeu, ação
hipócrita acobertada pela hipocrisia maior de considerar o Moro isento para
julgar o Lula. E para aceitar que o Lula fosse condenado por um processo que
não tem provas, mas convicções. O STF tornou-se a instancia máxima da
hipocrisia nacional.
Mas
tudo isso não bastava para consolidar a hipocrisia como o valor máximo do país
neste ano de 2018. Era preciso impedir a vitória eleitoral do PT e o seu
retorno à Presidência do Brasil. Primeiro, sem base legal, se proibiu,
hipocritamente, o Lula de ser candidato, porque ganharia no primeiro turno e
derrotaria todo tipo de hipocrisia reinante no país.
Para
isso foi preciso gerar milhões de notícias falsas, com fotos e tudo, absurdas,
para gerar rejeição a Haddad e permitir que fosse superado nas pesquisas. A
hipocrisia da mídia não denunciou os absurdos da mamadeira e outros, o Tribunal
Superior Eleitoral, ainda com evidências inquestionáveis de que eram grandes
empresários, com nome e sobrenome revelados, que financiavam esses mecanismos
que falsearam totalmente o resultado da eleição, imitando outros juízes, agiu
com hipocrisia total e considerou a campanha eleitoral legal. Da mesma forma
que juízes do STF, que pronunciaram combate às notícias falsas, não fizeram
nada, uma vez mais agiram com a hipocrisia do silêncio.
O
governo eleito é um poço de hipocrisias, apoiado pelo coro dos hipócritas na
mídia, no Judiciário, no Congresso, nas entidades empresariais. Todos sabem que
tudo foi uma farsa, que nada mais antigo na política que o eleito, seus filhos,
os ministros e secretários que ele escolheu para o governo. Todos sabem que a
aceitação do Moro de entrar pro governo ainda durante a campanha, bateu o
recorde de hipocrisia. Todos sabem que basta arranhar um pouco para toda a
corrupção que envolve o eleito, seus filhos e assessores, vir à tona. Queiroz é
o nome da hipocrisia da hora.
Qual
a base de uma hipocrisia tão difundida? A incapacidade da direita brasileira de
eleger um governo com um mínimo de legitimidade, com políticas que
conquistassem apoio popular. A continuidade da política econômica do governo do
golpe, de forma ainda mais profunda, confirma que a direita segue sem
alternativa ao neoliberalismo e, portanto, precisa lançar mão de artimanhas,
mentiras, ilegalidades, para ganhar eleições. Só com muita hipocrisia, pode
triunfar.
A
esquerda, os movimentos populares, os democratas de todo tipo, tem que lugar
pela verdade, pela desmistificação das hipocrisias reinantes. Mesmo contanto
com uma situação muito desigual nos meios para dar a luta de ideias, contamos
com a verdade, com a fragilidade de alternativa da direita e com suas
contradições.
A
vitória da hipocrisia sempre é passageira, como foi a mistificação do Collor, a
do FHC, a do Temer e agora, a do Bolsonazi. Temos que dar essa luta cotidiana e
nos prepararmos para reconstruir um Brasil democrático, justo, sem hipocrisias.
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