Experimento
conhecido como "o dilema do trem" é um cenário clássico entre
filósofos e sociólogos e promove conflito ético. O que você faria?
A
situação é complicada: um trem avança sem freios e está prestes a atropelar
cinco pessoas que estão sobre a linha férrea. Você está ao lado da estrada, em
frente a uma alavanca que, caso seja puxada, consegue desviar o trajeto da
composição. No entanto, se você acionar o equipamento, o trem vai atropelar
outra pessoa na linha ao lado.
Você
tem dez segundos para tomar uma decisão. Se não fizer nada, cinco pessoas
morrem. Se você puxar a alavanca, elas serão salvas, mas, como consequência,
outra pessoa vai morrer. O que fazer?
dilema
do trem experimento que é um cenário clássico entre filósofos e sociólogos
Esse
experimento, conhecido como “o dilema do trem“, é um cenário clássico entre
filósofos e sociólogos – ele é usado para estudar o modo como tomamos decisões
e para confrontar diferentes perspectivas sobre uma mesma situação.
Conflito ético
Por
um lado, há quem acredite que o correto seria causar o menor dano possível, ou
seja, a melhor opção seria puxar a alavanca para salvar mais vidas, mesmo que
uma pessoa acabe morrendo.
Do
outro lado, alguns argumentam que seria imoral intervir na situação, causando
um dano que não ocorreria sem a interferência, mesmo que as intenções sejam
boas.
A
espiral de perguntas poderia ser infinita: salvar cinco pessoas é melhor que
salvar apenas uma? É correto salvar cinco pessoas, mas matar uma que não estava
correndo risco? Quem escolheu não puxar a alavanca, mudaria de opinião se
fossem 100 pessoas a morrer e não apenas cinco?
Na prática
“Esse
dilema é sobre o bem-estar do indivíduo em contraponto ao bem-estar de um
grupo“, diz o sociólogo Dries Bostyn, da Universidade de Gante, na Bélgica.
Bostyn
liderou uma equipe de pesquisadores que tentou aplicar na prática o dilema
hipotético. Eles usaram um caso diferente, mas que segue a mesma lógica.
Para
seu experimento, Bostyn reuniu um grupo de 300 voluntários que se dispuseram a
enfrentar o problema.
Ele
perguntou para uma parte deles: em uma jaula há cinco ratos e em outra apenas
um. Com uma contagem regressiva de 20 segundos, caso o voluntário não faça
nada, os cinco ratos vão sofrer um choque elétrico que causará dor. Se antes do
tempo acabar, a pessoa apertar um botão, apenas um rato, que está em outra
jaula, levará o choque.
Segundo
o sociólogo, 66% dos voluntários disseram que apertariam o botão para que o
rato solitário recebesse o choque, o que evitaria que o grupo de cinco
sofresse. Outros 34% disseram que não fariam nada e, consequentemente, os cinco
ratos receberiam a descarga.
Depois,
os pesquisadores colocaram outro grupo de voluntários diante da situação real.
O resultado foi divergente. Eles ficaram diante da gaiola com cinco roedores e da
outra, com apenas um.
Entre
as caixas, havia o botão para aplicar o choque (na realidade, ele não produzia
choque elétrico de fato, mas os participantes foram levados a acreditar que
sim). O cronômetro começava a avançar e as pessoas tinham que decidir o que
fazer, rapidamente.
Neste
caso, 84% dos voluntários apertaram o botão para salvar os cinco ratos. Somente
16% não fizeram nada para evitar o possível efeito – resultado diferente de
quando o teste é aplicado apenas na teoria.
Mudança
Para
Bostyn, esse resultado sugere que “o que as pessoas pensam não corresponde ao o
que elas fazem na prática“.
Um
dos resultados mais interessantes do teste, segundo os pesquisadores, foi o
sentimento contraditório experimentado pelos participantes.
“Foi
fascinante ver as pessoas que acharam ter tomado uma boa decisão e depois
pediram desculpas por sua escolha“, diz Bostyn. “É uma questão muito
interessante para estudar no futuro.”
O
experimento de Bostyn ainda tem várias limitações, pois é difícil comparar a
morte de um rato com a de um ser humano.
No
futuro, o pesquisador pretende fazer um teste em que a mesma pessoa responde ao
caso hipotético e, depois, é submetida à experiência real.
Voltando
ao trem, você mudou de opinião?
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