Ouvi
uma vez num curso de oratória que nunca se deve começar a falar com um pedido
de desculpas. Mas confesso que é muito difícil fazer essa lista fingindo que
não precisa ser problematizada. Eu me questiono como uma mulher branca
privilegiada indicando “o que as pessoas deveriam conhecer” em termos de
literatura indígena; eu questiono o conceito de literatura e por que nessa
lista está tão atrelado a uma ideia de escrita ocidental formal. Ao mesmo tempo,
quis começar com algum lugar e sei que a lista tem limitações em tantos
sentidos que não valeria a pena enumerar.
O
foco em autoras contemporâneas é importante (pra mim) para evitar uma ideia
estereotipada da cultura indígena. Importa saber o que se faz hoje, que autores
podemos ler hoje. Talvez a lista não seja perfeita nem honre todas as
escritoras que merecem esse espaço. E claro que não honra os tantos autores
homens, mas a Alpaca se foca em discutir arte feita por mulheres. Mas quis
trazer para um lugar de privilégio uma data que merece reflexão, mais do que
fazer um cocar na escola. Essa lista está longe de perfeita e aceito críticas e
sugestões.
Então
é isso. Está aqui meu pedido de desculpas. Eis aqui autoras que são excelentes
e que merecem mais espaço.
Janet Campbell Hale
(ainda
não publicada no Brasil)

Janet
Campbell Hale é uma escritora nativo-americana. O pai da autora era totalmente
Coeur d’Alene, enquanto sua mãe era parte Kootenay e irlandesa. Por isso, o
trabalho da autora em geral explora questões da identidade nativo-americana,
ainda com questões como pobreza, abuso e a condição da mulher na sociedade.
Escreveu Bloodlines: Odyssey of a Native Daughter, que é em parte biográfico,
mas em parte uma discussão da experiência nativo-americana; The Owl’s Song,The
Jailing of Cecilia Capture e Women on the Run.
Marisol Ceh Moo
(ainda
não publicada no Brasil)

A
escritora é mexicana, escreveu X-Teya, u puksi’ik’al ko’olel (Teya, un corazón
de mujer), que foi o primeiro romance escrito em idioma maia. O livro foi
publicado numa edição bilíngue pela Dirección General de Culturas Populares
(México), com a versão em maia e em castelhano. Em entrevistas, a autora
explica que as publicações em língua maia só haviam trazido narrativas
curtidas, como o conto, o poema, o mito e as lendas. Marsiol Ceh Moo queria
mais liberdade com os personagens, tempos verbais e contextos e, para isso,
sentiu necessidade de uma narrativa mais longa.
Teya,
un corazón de mujer é o primeiro romance escrito por uma mulher em um dos
idiomas indígenas do México e narra o assassinato de um militante comunista em
Yucatán (México). A autora recebeu por essa narrativa o reconhecido Premio
Nezahualcóyotl de Literatura en Lenguas Mexicanas.
Graça Graúna

Graça
Graúna é descendente de potiguaras e se formou em Letras pela Universidade
Federal de Pernambuco. Também fez um mestrado sobre mitos indígenas na
literatura infantil e se doutorou em literatura indígena contemporânea no
Brasil. É autora de Canto Mestizo (Ed. Blocos, 1999),Tessituras da Terra
(Edições M.E, 2001) e Tear da Palavra, de 2007. Escreveu obras infanto-juvenis
como Criaturas de Ñanderu (Ed. Manole, 2010).
Lia Minapoty

Lia
Minapoty é brasileira, maraguá, palestrante e atuante dentro da causa indígena.
É autora de “Com a noite veio o sono”, publicado pela Leya. O livro trata do
modo de pensar que os maraguás têm a respeito da noite. O livro trata de temas
maraguás, informações relevantes à diversidade cultural do país, como por
exemplo, a luta de reconhecimento e demarcação de terras indígenas. Dentro disso,
o livro apresenta ilustrações de Maurício Negro. Lia tem um blog sem posts
desde 2011, mas que mostra muito de sua arte até aquele momento, além de textos
sobre a cultura indígena e sobre sua carreira.
Eliane Potiguara

Eliane
Potiguara é professora e escritora indígena brasileira, de origem potiguara.
Trabalha com diversos projetos que envolvem propriedade intelectual indígena,
como o Instituto Indígena de Propriedade Intelectual e a da Rede de Escritores
Indígenas na Internet, além de fazer parte da Rede Grumin de Mulheres
Indígenas. Foi uma das 52 brasileiras indicadas para o projeto internacional
“Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz”. No seu website oficial, a autora
divulga sua literatura, em conjunto de um blog como parte de seu trabalho na rede
GRUMIN de Mulheres Indígenas, da qual é fundadora e coordenadora.
http://www.geledes.org.br/cinco-escritoras-indigenas-contemporaneas-que-precisam-ser-divulgadas/#gs.null
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