“Venezuela
es el centro de una guerra mundial del imperialismo norte-americano y sus
satélites”, afirmou alto e bom som o presidente eleito da Venezuela, Nicolás
Maduro, durante o ato de posse, na quinta-feira, em Caracas. Não apenas a
Venezuela, mas também o Brasil, completamos – ambos países detentores de
grandes reservas petrolíferas e alvos de uma guerra de desestabilização desde a
década passada. A derrota dos Estados Unidos na Síria e a reorientação de seu
foco belicista para a Venezuela, ou seja, América do Sul, deveriam servir para
abrir os olhos de quem tem compromisso com a soberania e a paz na região.
“Trata-se,
desta vez, de destruir os Estados da Bacia das Caraíbas”, alerta Thierry
Meyssan, intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da
conferência Axis for Peace, em artigo recente. “O que está em jogo é a
destruição de todas as estruturas estatais regionais, sem levar em consideração
se são amigos (no caso do Brasil) ou inimigos (da Venezuela) políticos”, diz
ele. Segundo Thierry Meyssan, “está perfeitamente claro que está já em marcha o
processo para a guerra”, que “forças enormes estão em jogo” e, que “pouco há o
que possa pará-las”.
Nesta
sexta-feira, o governo da Venezuela denunciou um ataque contra galpões do
Instituto Venezolano de Seguros Sociales (IVSS), um armazém de medicamentos, o
que dá a dimensão da agressividade do imperialismo. Maior atentado criminoso
contra a saúde da população na história da Venezuela, segundo as autoridades, o
incêndio destruiu com todo o material estocado para os próximos dois meses –
talvez não por acaso. Além do bloqueio econômico, a Venezuela é impedida de
importar, por exemplo, remédios contra o HIV, além de outros medicamentos
importantes para a saúde pública.
De
forma corajosa, correta estrategicamente e, certamente, com o aval do
presidente Lula, a senadora e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, levou o apoio
e a solidariedade do partido ao presidente Maduro. A posição da senadora
expressa um avanço na compreensão e no posicionamento do partido diante do
atual cenário de disputa política – definitivamente, geopolítica, regional e
internacional. A incredulidade paroquial e, em alguns casos, infantil, ou mesmo
oportunista, de parte da esquerda brasileira diante da ação do imperialismo já
custou um golpe de Estado, a deposição de uma presidenta e a prisão do maior líder
político do país.
O
que está em jogo na Venezuela não é, nem de longe, a preocupação com a
democracia, com o bem-estar do povo ou com as migrações, aliás, estimuladas e,
em boa parte, organizadas pelos golpistas. A Venezuela detém 298,3 bilhões de barris,
ou 17,5% de todo o petróleo do mundo, a apenas 4 ou 5 dias de navio das grandes
refinarias do Texas – contra 35 a 40 dias do Oriente Médio. De país miserável,
com 70% de sua população abaixo da linha da pobreza e 40% do seu povo na
pobreza extrema, na Venezuela pós-chavismo a desnutrição é de apenas 5%, e a
desnutrição infantil 2,9%.
Em
debandada do Oriente Médio, e sem capital para exportar, ao atacar a Venezuela
os Estados Unidos apostam impedir o crescimento da influência da China e da
Russia na América Latina. Nos últimos meses de 2018, imagens de Maduro com os
presidentes Putin e Xi Jinping rodaram o mundo, ilustrando matérias que davam
conta de acordos, investimentos econômicos e, mesmo apoio militar à Venezuela.
A ponto do novo chefe do Pentágono, Patrick Shanahan, declarar que o principal
desafio da segurança dos EUA é a China – ou como ele enfatizou: “China, China e
China” – além, claro da Rússia.
O
objetivo do imperialismo em decadência é unicamente tentar transformar a
América do Sul em um novo Oriente Médio, território de guerras intestinas,
assalto às riquezas naturais e mercado para a desova de armamento dos EUA e de
Israel. Com países submetidos a uma recolonização selvagem, por meio de corte
de direitos sociais, fim do ensino gratuito, dos serviços de saúde,
privatizações e Estados a serviço do capital financeiro. Nesse contexto, não
existe espaço para qualquer outra posição que não seja a firme luta
antiimperialista, em defesa da América Latina, do Brasil, da Venezuela, da
auto-determinação dos povos e da democracia.
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