CRÔNICAS DA VILA NORTE
SOBRE ANIMAIS E ESPERANÇAS
Tenho tanta afinidade com animais que ninguém mais pega carona no meu automóvel com medo de sair cheio de pelos de cachorro. É que o meu cão Floquinho (que como o nome já indica, tem a cor branca) é sempre o primeiro a entrar no carro. Tão logo ele me vê colocar os sapatos ou trocar de calças, já começa a fazer festa, deixando-me com um sentimento de culpa caso tenha que deixá-lo em casa. E isso só acontece raramente.
Tenho tanta afinidade com animais que ninguém mais pega carona no meu automóvel com medo de sair cheio de pelos de cachorro. É que o meu cão Floquinho (que como o nome já indica, tem a cor branca) é sempre o primeiro a entrar no carro. Tão logo ele me vê colocar os sapatos ou trocar de calças, já começa a fazer festa, deixando-me com um sentimento de culpa caso tenha que deixá-lo em casa. E isso só acontece raramente.
Sempre digo para meus conhecidos que eu não freqüento a casa de quem não me permite entrar com meu cão do lado. Caso eu saiba que a pessoa não gosta de animais, não me demoro mais do que cinco ou dez minutos, apenas o necessário para que eu resolva com ela o que eu tenho para resolver.
Em mais de noventa por cento dos casos, se eu tiver que escolher entre ficar com as pessoas ou com os bichos, eu escolho os segundos. Outro dia eu descobri que devo estar sofrendo da tal de misantropia, ou seja, a aversão aos seres humanos. Também, após mais de trinta anos de experiência em vida noturna como músico e atualmente como advogado, acabei descobrindo que é bem mais seguro confiar nos bichos. Com eles tudo é mais direto e real. É um gostar ou não gostar, sem subterfúgios, máscaras ou as velhas hipocrisias que hoje convencionaram chamar de politicamente correto.
Fico chocado quando tenho notícias de maus tratos aos animais. Tenho ojeriza de pessoas que chicoteiam os cavalos de que se servem para puxar suas carroças, daqueles que sacrificam animais logo que nascem, que chutam e envenenam os cães vira-latas, que utilizam animais em rodeios, touradas, etc.
Felizmente, nem sempre é assim. No dia 1º de Janeiro de 2.009 durante minha caminhada diária, numa esquina da Rua dos Andradas, tive a oportunidade de assistir uma cena que me tocou profundamente. Uma moça com pouco mais de 20 anos, dando água e comida para um cachorro cambaleante e esquálido que mal conseguia andar. Após esperar que ele comesse algo e bebesse um pouco de água para que recuperasse um pouco as forças e ela pudesse conquistar-lhe a confiança, passou a atrai-lo para um lugar que parecia ser sua casa. Tudo leva a crer que queria dar ao animal um abrigo melhor.
Lembrei-me da cadelinha Léia, nome que lhe foi dado pelas crianças da vizinhança. Ela apareceu nas ruas da Vila Norte, grávida e mancando como se estivesse com um defeito na perna. Como parecia faminta, vários vizinhos revezaram-se dando-lhe alimentação. Até um refúgio na divisa entre duas casas foi construída para ela por algumas meninas que moram na rua. Todos os dias, alguém vinha com ração e água para o animalzinho que logo recuperou as forças, tanto que alguns dias depois, uma família da região acabou adotando-a. Outro dia fiquei sabendo que ela havia dado luz a seis cãezinhos.
Num mundo árido de bons sentimentos, atitudes como essas me fazem ter um pouco de confiança no ano que está começando a engatinhar. Passo a acreditar que nem tudo está perdido; ainda há esperança.
Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS
Publicado no Diário de Santa Maria no dia 06 de Janeiro de 2.009
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